quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Salmo Sertânico

Cruzo esses mundos sertânicos
que me habitam o âmago,
a escalar pedras e montes,
pisando a vegetação rasteira e outras palavras miúdas...

Nas costas, um matulão de incertezas,
de inquirições agnósticas,
perguntas tantas vezes repetidas,
sob o Sol desses desertos...

Carrego a minha Dúvida,
mas não, meu ateísmo.

Saibam todos que Deus, nessas léguas perdidas,
é uma necessidade vital.
É como o ar fresco e úmido, que leva as cabras
sempre mais alto, nesses montes desertos.
Deus está nas nuvens mais densas
e umedece o nariz dos caprinos...
Nesses sertões,
busca-se Deus, com olhos de cabra sedenta.
Os olhos dos viajores bramam por Deus.
Assim são os olhos da alma.
Alma?
Sim, isso, que nos faz ter gana de viver.
Isso, em que flui, instintiva, a lei natural da sobrevivência.
Esse vapor d'água,
que brilha nos olhos dos rebanhos assustados;

Essa nuvem cor de chumbo sobre a caatinga, está prenhe de Deus,
O mesmo Deus de Baruch Spinoza, encobre os céus dos sertões.
O Deus que de repente desabará, pluvial, sobre essa Dúvida
e encharcará a chã sequiosa dessa caminhada.

Deus, nessas léguas sertânicas, é essa necessidade radical,
no âmago estremecido da vida.

Subo este monte, carregando a minha sede,
e alço meus olhos aos céus cinzentos.

Sopra, invisível, um vento umedecido.
Sinto o sagrado em minhas narinas...
Eurico, sertânico
(bramando, "como o cervo, pelas correntes das águas...")
Com humilde dedicatória a Elomar, imenso criador de cabras, palavras e canções.

Nenhum comentário:

Postar um comentário