“Os sentimentos morais não são inatos,
mas adquiridos, mas tal não significa que não são naturais, pois é natural para
o homem, falar, raciocinar, construir cidades, cultivar a terra, apesar destas
competências serem faculdades que são adquiridas. Os sentimentos morais, na
realidade, não fazem parte da nossa natureza, se entendermos por tal que deviam
estar presentes em todos nós, num grau apreciável, realidade que
indubitavelmente é um fato muito lamentável, reconhecido até pelos que mais veementemente
acreditam na origem transcendente destes sentimentos. No entanto, tal como as
outras faculdades referidas, a faculdade moral, não fazendo embora parte da
nossa natureza, vai-se desenvolvendo naturalmente; tal como as outras, pode
nascer espontaneamente e, apesar de muito frágil, no início, é capaz de
atingir, por influência da cultura, um grau elevado de desenvolvimento.
Infelizmente, também, mas recorrendo, tanto quanto é necessário, às sanções
externas, e aproveitando a influência das primeiras impressões, ela pode ser
desenvolvida em qualquer direção, ou quase, a ponto de não haver ideia, por
mais absurda e perigosa que possa ser, que não se consiga impor ao espírito
humano, conferindo-lhe, pelo jogo dessas influências, toda a autoridade da
consciência.”
John
Stuart Mill, in Utilitarismo
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