“A
esperança é filha do desejo, mas não é o desejo. Constitui uma aptidão mental,
que nos fez crer na realização de um desejo. Podemos desejar uma coisa sem que
a esperemos. Toda gente deseja a fortuna, muito poucos a esperam. Os sábios
desejam descobrir a causa primitiva dos fenômenos; eles não têm nenhuma
esperança de consegui-lo. O desejo aproxima-se algumas vezes da esperança, a
ponto de confundir-se com ela. Na roleta, eu desejo e espero ganhar.
A esperança é uma forma de prazer em
expectativa que, na sua atual fase de espera, constitui uma satisfação frequentemente
maior do que o contentamento produzido pela sua realização. A razão é evidente.
O prazer realizado limita-se em quantidade e em duração, ao passo que nada
limita a grandeza do sonho criado pela esperança. A força e o encanto da
esperança consistem em conter todas as possibilidades de prazer. Ela constitui
uma espécie de vara mágica que transforma tudo. Os reformadores nunca fizeram
mais do que substituir uma esperança por outra.”
Gustave
Le Bon, in As Opiniões e as Crenças
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