Como guia das nossas próprias aspirações não
devemos tomar imagens da fantasia, mas conceitos. Geralmente ocorrer o
inverso. Na juventude, em especial, a meta da nossa felicidade fixa-se na forma
de algumas imagens que se implantam na nossa mente, frequentemente pela vida
inteira ou por metade dela, mas na realidade não passam de fantasmas que zombam
de nós: pois, no momento em que as alcançamos, desfazem-se no nada, e vemos que
não cumprem nada daquilo que prometem.
Enquadram-se
aqui determinadas cenas da vida doméstica, citadina, campestre, imagens da
casa, do ambiente, etc. Chaque fou a
sa marotte [cada louco com sua mania]. É comum também fazer parte
disso a imagem da amada. É natural que seja assim: pois o que é evidente,
justamente por ser imediato, também age sobre a nossa vontade de modo mais direto
do que o conceito, o pensamento abstrato, que fornece somente o universal, não
o detalhe, e tem uma relação apenas indireta com a vontade. Em contrapartida, o
conceito mantém a palavra. É ele que deve sempre guiar-nos e orientar-nos,
embora seja certo que sempre necessitará da ilustração e da paráfrase por meio
de imagens.
Arthur Schopenhauer, in A Arte de Ser Feliz
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