“Ao
lermos um autor, não temos a capacidade de adquirir as suas eventuais
qualidades, como o poder de convencimento, a riqueza de imagens, o dom da
comparação, a ousadia, ou o amargor, ou a concisão, ou a graça, ou a leveza da
expressão, ou o espírito arguto, contrastes surpreendentes, laconismo,
ingenuidade e outras semelhantes. No entanto, podemos evocar em nós mesmos tais
qualidades, tornarmo-nos conscientes da sua existência, caso já tenhamos alguma
predisposição para elas, ou seja, caso as tenhamos potentia; podemos ver o que é possível fazer com elas, podemos
sentir-nos confirmados na nossa tendência, ou melhor, encorajados a empregar
tais qualidades; com base em exemplos, podemos julgar o efeito da sua aplicação
e assim aprender o seu uso correto; somente então as possuímos também actu.
Esta é, portanto, a única maneira na qual
a leitura nos torna aptos para escrever, na medida em que nos ensina o uso que
podemos fazer dos nossos próprios dons naturais; portanto, pressupondo sempre a
existência destes. Por outro lado, sem esses dons, não aprendemos nada com a
leitura, exceto a maneira fria e morta, e tornamo-nos imitadores banais.”
Arthur
Schopenhauer, in Da Leitura e dos Livros
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