“Não quero deixar passar o ensejo de
indicar a diferença entre o bem em geral e o bem moral. Ambas as noções têm
algo de comum e mesmo indissociável: nada pode ser considerado um bem se não
tiver uma parcela de bem moral, e o bem moral é indiscutivelmente um bem. Qual
é então a distinção entre as duas categorias? O bem moral é o bem absoluto, no
qual se realiza totalmente a felicidade, e graças ao contato dele todas as
outras coisas se podem tornar formas de bem. Exemplificando: há coisas que em
si nem são boas nem são más, tais como o serviço militar, a carreira
diplomática, a jurisprudência. Se estas tarefas forem realizadas conformemente
ao bem moral, começam a tornar-se bens e passam, de indiferentes, para a
categoria do bem. O bem, em geral, depende de estar ou não associado ao bem
moral; o bem moral é em si mesmo o bem; o bem em geral está dependente do bem
moral, enquanto o bem moral depende apenas de si. Tudo quanto é simplesmente um
bem poderia ter sido um mal; o bem moral, pelo contrário, nunca poderia deixar
de ter sido um bem.”
Sêneca, in Cartas
a Lucílio
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