Democracia
digital é um projeto inevitável, mas ainda em formação. É impossível governar um país apenas através
de assembleias e votos diretos.
Com
todos seus defeitos, a democracia representativa garantiu políticas de inclusão
e os direitos das minorias. São avanços civilizatórios que dificilmente teriam
ocorrido em eleições plebiscitárias.
São
curiosos os conceitos abarcados pela democracia. O povo se manifesta apenas nos
períodos eleitorais. Eleitos presidente, governadores, parlamentares, o jogo
político torna-se restritivo.
Nas
disputas políticas, os poderes econômicos participam através da influência na
mídia, do financiamento de políticos e da contratação de lobbies. O contraponto
é feito por partidos de esquerda (que também têm seus grupos econômicos
aliados), sindicatos, organizações sociais. Fora das eleições, poucas vezes há
a manifestação do cidadão individual, desorganizado.
No
campo da economia do setor público, não há diferença entre orientações
partidárias: há apenas os dirigentes mais ou menos sérios e seus pactos
econômicos nebulosos.
No
caso brasileiro, a não obrigatoriedade da prestação de contas aos associados
e/ou eleitores promoveu a descaracterização das instituições, seu alienamento
em relação aos cidadãos. Além disso, a exploração permanente da escandalização
como arma política, acelerou a perda de representatividade dos diversos poderes.
Tudo
isso é fato e explica os desdobramentos brasileiros do fenômeno mundial da
mobilização da opinião pública pelas redes sociais.
Tem-se
a questão premente dos poderes constituídos se abrirem para o escrutínio dos
cidadãos, através das redes sociais. Mas um enorme conjunto de obstáculos ao
exercício da democracia direta.
Por
isso mesmo, o caminho inicial da democracia digital passa pelo chamado
“accountability” – a obrigação de um dirigente público de prestar contas aos
cidadãos. Será a tendência inevitável em todo o setor público – e seria
conveniente que estados e municípios, órgãos federais e de controle, começassem
a se preparar para os novos tempos.
Essa é a única certeza: cada vez mais serão abertos
os porões de todos os poderes.
A
hipocrisia é um dos ingredientes centrais dos modelos políticos. É através da
hipocrisia que partidos abrem mão de princípios por alianças que lhes garantam
o poder; que grupos econômicos impõem leis, portarias, políticas para interesse
próprio, em nome de um suposto interesse comum; que criam-se imagens de figuras
públicas supostamente impolutas – que se valem desse patrimônio artificialmente
construído para benefício pessoal.
Agora
mesmo, fica-se sabendo que um filho do presidente do STF (Supremo Tribunal
Federal), Ministro Joaquim Barbosa, em 2010 ganhou emprego da casa de show
beneficiada pelos patrocínios da Visanet; que outro filho conseguiu emprego em
programa da rede Globo, que tem demandas expressivas no Supremo.
Menciono-o
apenas como exemplo máximo da última tentativa de criação política do cavaleiro
sem mácula.
Nesses tempos de redes sociais, a democracia
digital ainda demorará um tanto. Mas a hipocrisia começa a ser varrida pelo
transbordamento das informações, dos diques da mídia convencional.
Luís Nassif, in
www.advivo.com.br
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