“Cumpre-nos não só averiguar porque se
gasta a vida, dia após dia, e o pouco que resta à proporção vai diminuindo.
Pensemos também no seguinte: supondo que a um homem toque viver longa vida, uma
questão permanece escura: a de saber se a sua inteligência será capaz, tempo adiante,
sem defecção, de compreender os problemas e a teoria que apontam ao
conhecimento das coisas divinas e humanas. Se ele pega a cair em estado de
infantilidade, a respiração, a alimentação, a imaginação, os gestos impulsivos
e as outras funções do mesmo gênero não lhe faltarão necessariamente; mas
dispor de si, obtemperar exatamente a todas as exigências morais, analisar as
aparências, ver se não será já tempo de entrouxar e ir para melhor estão à
altura de responder a necessidades desta ordem - para tudo isso se necessita de
um raciocínio em boa forma; e o raciocínio, há que tempos perdeu a chama e a
agudeza. Cumpre-nos pois andar ligeiros, não só porque a morte se avizinha a
cada momento mas ainda porque antes de morrer perdemos a capacidade de conceber
as coisas e de lhes prestar atenção.”
Marco
Aurélio, in Pensamentos
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