O autor de 1984 fala do tiro
que levou no pescoço, das perseguições políticas e de sua luta ao lado dos
republicanos na Guerra Civil Espanhola
George Orwell era
um escritor prolífico. Numa semana típica, escrevia três resenhas, mais de dez
cartas e mantinha um diário minucioso, no qual anotava até se tinha chovido ou
feito sol, além de trabalhar no livro ao qual se dedicava. Suas obras completas
têm vinte volumes, foram descobertas 1 700 de suas cartas e o diário ultrapassa
as 500 páginas. Mas seus biógrafos e editores dizem que ele escreveu mais que
isso. Os cadernos com as anotações sobre a sua participação na Guerra Civil
Espanhola, por exemplo, teriam sido roubados de seu hotel por agentes do
Comissariado do Povo para os Assuntos Internos – a polícia política da União
Soviética que antecedeu a KGB – e provavelmente estão em algum arquivo na
Rússia.
Estava bem longe,
também, de ser um escritor de gabinete. Na Pior em Paris e Londres relata a sua história como lavador
de pratos em restaurantes e hotéis chiques. O Caminho para Wigan Pier é produto do tempo em que trabalhou
como mineiro e morou em favelas no norte da Inglaterra. Lutando na
Espanha reconstitui a sua participação, ao lado dos republicanos, na
guerra civil dos anos 30. George Orwell – nom de plume de Eric Arthur Blair – quis estar sempre junto
dos pobres e dos trabalhadores. Para descrever a vida concreta deles e aplicar
na prática as suas próprias ideias socialistas.
Nas cartas
publicadas a seguir, Orwell fala da Guerra Civil Espanhola. Na manhã de 20 de
maio de 1937, ele levou um tiro que lhe atravessou o pescoço e quase o matou.
Foi hospitalizado e ficou sem voz um tempo. No final da convalescença,
stalinistas locais e agentes soviéticos o perseguiram por estar engajado na
milícia do Partido Operário de Unificação Marxista, o poum, organização
hostilizada por Moscou. Orwell viveu na rua e dormiu em igrejas até que
conseguiu escapar da Espanha com sua mulher, Eileen.
De volta à Inglaterra, escreveu inúmeras
cartas explicando por que a União Soviética destruíra o POUM, prendera os seus
militantes e assassinara Andrés Nin, o líder do partido. Tanto a fábula de A Revolução dos Bichos como o
romance 1984 reconstituem
em ficção muito da experiência política de Orwell na guerra civil na Espanha.
Leia as cartas aqui.
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