domingo, 30 de junho de 2013

Espero sair com vida para escrever

O autor de 1984 fala do tiro que levou no pescoço, das perseguições políticas e de sua luta ao lado dos republicanos na Guerra Civil Espanhola


George Orwell era um escritor prolífico. Numa semana típica, escrevia três resenhas, mais de dez cartas e mantinha um diário minucioso, no qual anotava até se tinha chovido ou feito sol, além de trabalhar no livro ao qual se dedicava. Suas obras completas têm vinte volumes, foram descobertas 1 700 de suas cartas e o diário ultrapassa as 500 páginas. Mas seus biógrafos e editores dizem que ele escreveu mais que isso. Os cadernos com as anotações sobre a sua participação na Guerra Civil Espanhola, por exemplo, teriam sido roubados de seu hotel por agentes do Comissariado do Povo para os Assuntos Internos – a polícia política da União Soviética que antecedeu a KGB – e provavelmente estão em algum arquivo na Rússia.
Estava bem longe, também, de ser um escritor de gabinete. Na Pior em Paris e Londres relata a sua história como lavador de pratos em restaurantes e hotéis chiques. O Caminho para Wigan Pier é produto do tempo em que trabalhou como mineiro e morou em favelas no norte da Inglaterra. Lutando na Espanha reconstitui a sua participação, ao lado dos republicanos, na guerra civil dos anos 30. George Orwell – nom de plume de Eric Arthur Blair – quis estar sempre junto dos pobres e dos trabalhadores. Para descrever a vida concreta deles e aplicar na prática as suas próprias ideias socialistas.
Nas cartas publicadas a seguir, Orwell fala da Guerra Civil Espanhola. Na manhã de 20 de maio de 1937, ele levou um tiro que lhe atravessou o pescoço e quase o matou. Foi hospitalizado e ficou sem voz um tempo. No final da convalescença, stalinistas locais e agentes soviéticos o perseguiram por estar engajado na milícia do Partido Operário de Unificação Marxista, o poum, organização hostilizada por Moscou. Orwell viveu na rua e dormiu em igrejas até que conseguiu escapar da Espanha com sua mulher, Eileen.
De volta à Inglaterra, escreveu inúmeras cartas explicando por que a União Soviética destruíra o POUM, prendera os seus militantes e assassinara Andrés Nin, o líder do partido. Tanto a fábula de A Revolução dos Bichos como o romance 1984 reconstituem em ficção muito da experiência política de Orwell na guerra civil na Espanha.
Leia as cartas aqui.

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