Quinta-feira,
9 de maio de 2013, 21h40, Fortaleza. Esta noite vai ficar gravada na memória e
nos corações de muita gente, pelo menos para as 50 mil pessoas que
testemunharam o encerramento da turnê brasileira “Out There!”, de sir Paul
McCartney, o mais pop dos Beatles, na capital cearense. A prova de resistência
aplicada durante todo o dia de sol forte, que castigou a moleira e a paciência
de milhares de fãs, foi recompensada com uma apresentação impecável: foram 2h40
históricas distribuídas entre 36 canções que passearam por todas as fases do
quarteto britânico e da carreira solo de Mccartney. O show aconteceu no estádio
Arena Castelão, campo que será utilizado durante o período da Copa do Mundo
2014, e serviu como teste de fogo para os organizadores do mundial de futebol
que ainda terão muito trabalho no quesito mobilidade e urbanização no entorno:
todas as vias de acesso para se chegar ao lugar estão fase de conclusão, e a
presença do ex-Beatle provocou engarrafamentos na BR e em avenidas importantes
da cidade que somados, segundo as rádios locais, chegaram a 80 km. Sinal de
celular também virou artigo de luxo quando a multidão se aglomerou para valer.
Alheio
ao caos no trânsito, o multiinstrumentista James Paul McCartney, um senhor de
70 anos ainda com muito gás para queimar, tocou baixo, guitarra, piano, violão
de 6 e 12 cordas, viola; cantou e encantou, abençoou pedido de casamento,
ensaiou rebolado no mais puro estilo inglês e soltou suas sempre aguardadas
‘frases regionais’ – se em Belo Horizonte, no dia 4, ele soltou um “Uai!”, em
Fortaleza surpreendeu todos ao mandar um “vamos botar boneco!”. Repetiu pelo
menos umas três vezes a expressão que entre tantos significados também quer
dizer ‘vamos aprontar’; e ainda disse um discreto “Eita Má!”, contração do
versátil cacoete linguístico ‘eita macho’, marca registrada do cearense
utilizada para chamar ou se referir a alguém independente do gênero.
Abriu
o show com “Eight days a week” dos Beatles e tocou as duas primeiras músicas
com seu blazer ‘azul britânico’ e o indefectível baixo de formato
personalizado. Na terceira música, já sem a presença da bateria de fotógrafos
que fizeram a cobertura do show e foram autorizados a registrar apenas as duas
primeiras canções, Paul estava encharcado de suor e só de camisa branca. Em
cena, Paul mais quatro músicos: Paul “Wix” Wickens (teclados), Brian Ray (baixo
e guitarra), Rusty Anderson (guitarra) e Abe Laboriel Jr. (bateria). Todos
também ajudavam nos vocais, principalmente Abe.
Simpático, agradeceu as provas de carinho que
vinham da plateia totalmente dominada por Paul, que ainda dedicou a música
“Here Today” ao “amigo John (Lennon)” e fez tributo a George Harrison com a
clássica “Something”. A esposa Nancy, com quem está casado desde 2011, ofereceu
“My Valentine” – durante a execução dessa música, por sinal, os telões
mostraram os atores Natalie Portman e Johnny Deep traduzindo a letra para a
língua de sinais. A duração média das músicas bateu na casa dos 3 minutos.
Especialmente para o show de de Fortaleza, inseriu “Mr.Kite” do cultuado álbum
Sgt Pepper’s Lonely Hearts Club Band. A tradição em “Let it be” também foi
mantida, com o público de celular ou isqueiro em punho emitindo pequenos e
centenas de pontos iluminados por todo o estádio.
Jovens se emocionam ao ouvir ex-Beatles
soltar a voz
Detalhes
e surpresas
Cada detalhe era milimetricamente acompanhado pelo
público através de dois telões laterais gigantes e outro maior ainda no fundo,
que combinados com a iluminação de primeira categoria compuseram o cenário do
espetáculo. Além de imagens pré-gravadas sincronizadas com o que acontecia e
também faziam uma retrospectiva da carreira dos Beatles, mostrava imagens
antigas e da intimidade familiar, no esquema ‘para cada música um vídeo
diferente’, as imagens transmitidas ao vivo de cima do palco também eram
editadas na hora; elevando a emoção de todos.
A
estrutura móvel do palco, que em certo momento, durante interpretação solo de
“Blackbird”, elevou Paul a uns 6 metros, ainda guardava surpresas para a
empolgada e eclética plateia formada por fãs de 0 a 99 anos.
A
primeira surpresa foi encomendada por Paul: quando os acordes de “Live and let
die” ecoaram na Arena Castelão, efeitos pirotécnicos explodiram no palco. Surpresa
e delírio geral, até para quem já estava esperando a performance. Mas logo em
seguida, na música “Hey Jude”, foi a vez do público dar o troco e emocionar sir
McCartney. A mobilização articulada pelas redes sociais funcionou e na hora do
“na na na na na na na” foi a apoteose, com direito a um ‘tapete’ de balões
verde e amarelo. A imagem da plateia colorida foi retransmitida no telão do
fundo, deixando Paul cercado pela multidão – impossível conter as lágrimas e
procurar a namorada/o, o marido/esposa, ou o amigo/a mais próximo para um longo
abraço.
Para fechar a noite de declarações de
amor de ambos os lados (de cima do palco e da plateia), Paul McCartney recebeu
um casal de namorados cujo pedido (bem sucedido) de casamento foi realizado em
cima do palco em frente a 50 mil pessoas. Paul abençoou e abraçou o casal –
agora de noivos. Voltou para dois bis e para dizer que precisava ir embora
disse: “é hora de vazar”. Risada geral do público e dele mesmo, risada que
conferiu energia para quem ainda precisava pegar a estrada para voltar para
casa.
Yuno
Silva, in
www.tribunadonorte.com.br, de 11/05/2013
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