L7m prefere não aparecer na frente da
câmera. Ele não gosta da ideia de que sua arte seja associada a outra imagem
que não seja a da própria arte. Também prefere não citar influências ou tentar
encaixar seu trabalho em determinado estilo ou escola artística. Procura fazer
uma arte única, independente, autêntica – simplesmente a sua arte. Por fim, não
gosta de usar palavras para descrever ou definir aquilo que faz. O que a arte é
ou o que ela diz está na própria imagem, e alguma coisa vai se perder no meio
do esforço para tentar transformar isso em texto. Grafite, street art… Chame
como quiser. O que L7m faz é usar tinta spray como matéria-prima e a cidade
como suporte.
O interesse pelas artes visuais vem da
infância. Desenhava desde pequeno e chamava a atenção de colegas e professores.
Entrou em um curso de pintura em tela, onde aprendeu a fazer naturezas-mortas e
paisagens. Mas gostava de desenhar rostos – paixão que o acompanha até hoje.
Como essa não era a especialidade da professora, começou a praticar sozinho e a
desenvolver suas próprias técnicas. Finalmente, na adolescência, uma viagem o
levou a escolher o tipo de arte que queria fazer. “Com 12 ou 13 anos, eu fui
até São Paulo e vi alguns grafites na cidade, e era lindo de ver”, conta L7m. “Aí
eu comprei alguns sprays e comecei a praticar”.
A prática levou L7m a desenvolver um
estilo muito único e muito seu, o que lhe rendeu reconhecimento no cenário
artístico bauruense e possibilitou que ele vivesse de sua arte. Hoje, expõe
telas em galerias e outros espaços da cidade, faz live painting –
espécie de performance em que ele pinta durante festas -, participa de oficinas
e eventos. “É um trabalho que nem parece que é trabalho”, afirma. “É uma coisa
muito boa”.
Apesar disso, o que ele mais gosta de
fazer continua sendo a arte urbana em sua essência: a pintura em muros e
paredes da cidade, geralmente em fábricas abandonadas ou propriedades em que
obtém autorização dos donos para intervir. Por que a preferência? “É pela
sensação de liberdade mesmo”, ele diz. “E por você ter uma arte compartilhada
com todo tipo de gente, sem escolher classe social. Você pode levar seu
trabalho para lugares que sofrem de carência de arte, para pessoas que não têm
a oportunidade de ir a uma galeria, a um museu”.
Ter uma identidade e um estilo
característicos não fazem do trabalho de L7m algo fixo ou imutável. “Minha arte
está sempre sofrendo algumas transformações, mudando alguma coisa ou outra”. No
momento, por exemplo, uma atenção especial a figuras de animais começa a se
anunciar – algo que ele prefere não comentar profundamente por enquanto, por
ser um foco que ainda está começando a se definir. O que mais se destaca em sua
obra, no entanto, ainda são os rostos. Semblantes sérios, detalhados,
expressivos, feitos em poucas cores. O preto e o branco predominam porque,
segundo o artista, combinam com o ambiente onde são feitas as pinturas. Cores
de movimento, como laranja e vermelho, aparecem representando um mundo urbano
onde as coisas acontecem com grande rapidez. ”Os meus rostos são rostos
anônimos”, ele comenta. “É isso que eu tento colocar: deixar que cada pessoa
seja importante. Pegar aquela pessoa, que ninguém dá valor para a história
dela, e fazer disso uma história”.
Esse tipo de personagem é a grande fonte
de inspiração de L7m. “Eu me inspiro basicamente nas pessoas, nos sentimentos
delas – sentimentos incômodos. Gosto bastante de passar esse lado caótico, de
abrir os olhos das pessoas através do meu trabalho, fazer até elas se sentirem
incomodadas. Eu acho que a arte não pode perder esse foco, não pode ficar uma
arte decorativa. Ela tem que ter um contexto, um conteúdo que se relacione com
as pessoas”.
E
o caos e o incômodo estão lá. Nos grandes olhos impassíveis que se fixam sobre
o observador e o seguem enquanto ele caminha em frente ao muro. No “7″
misterioso gravado na cabeça de vários desses personagens. No líquido escuro
que escorre da boca aberta de alguém que parece não se dar conta do que está
acontecendo. No código de barras estampado na testa de uma pessoa transformada
em produto a venda. É na gente incomodada da cidade caótica que está a beleza
da arte de L7m.
Fonte: Imagens: Street Art Utopia - Texto: curtabauru.com.br
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