quarta-feira, 1 de maio de 2013

Livro de Poemas, de Jorge Fernandes


Livro de Poemas, de Jorge Fernandes, publicado em 1927, surpreendeu pela modernidade de sua proposta, pois sua literatura fez o contraponto com os versos parnasianos e neo-românticos dos poetas do Rio Grande do Norte.
Durante a década de 20, o autor rompeu com as formas antigas de poetar, iniciando o verso livre, sem rima, cantando as coisas mais prosaicas possíveis, o que causou escândalo na província conservadora. Não importava que os outros não quisessem ver. Ele via. Por isso, escreveu o Livro de Poemas.
Os quarenta textos que compõem a obra são considerados referências para o período e fizeram com que a obra tivesse repercussões fora da região Nordeste.
Vejamos um dos poemas extraído desta obra:

Meu poema parnasiano n° um

Que linda manhã parnasiana...
Que vontade de escrever versos metrificados
Contadinhos nos dedos...
Chamar de reserva todas as rimas
Em - or - para rimar com amor...
Todas as rimas em - ade - pra rimar com saudade...
Todas as rimas em - uz - pra rimar com Jesus, cruz, luz...

Enfeitar de flores de afeto um soneto ajustadinho
Todo trancado na sua chave de ouro...
Remexo os velhos livros...

“Ah! que saudades eu tenho
Da aurora da minha vida
Da minha infância querida...”

Zim... (ligaram um dínamo de milhares de cavalos
E as polias giram e as máquinas abafam o último verso da quadrinha...)

E lá me vem à mente o ritmo dos teares...
As grandes rimas dos padrões...
Os fios se cruzam... se unem pras grandes peças de linho...

- Óleos... fios... polcas... alavancas.
Apitos. Ponteadores. Carrités.
Zim traco! traco! traco! Malhos. Alicates. Ar comprimido.

Fuco! fuco! dos foles
Marcação de fardo pra exportação: marca M.B.C. - Fortaleza - M.F.M. - Mossoró - setas e contra marca -
Trepidação de decoviles.
“Ah! que saudades eu tenho.”

E me abafa o segundo verso de Casemiro
Um caminhão cheio de soldados que segue para o interior
A caçar bandidos.

Que linda manhã parnasiana!
Vou recitar “A vingança da porta”.
Os lindos e sangrentos versos do meu passado:
- “Era um hábito antigo que ele tinha...”
Pregões de gazeteiros: - Raide de San-Roman! Ribeiro de Barros!
O grande momento da aviação mundial!
- Que poema forte o de San-Roman!
- Que poema batuta o de Ribeiro de Barros!
Todo misturado de nuvens, de óleo, gasolina,
De graxa, de gritos de bravos! de emoções!

Dem! dem! dem!: - o auto-socorro -
- Quem vem ali?
Um operário que quebrou uma perna de uma grande altura.
- Viva o grande operário! - Viva o grande herói do dia!
- Vivôôôôô!...

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