“Como
escritor, poderá alguém fazer a experiência de que quanto mais precisa,
esmerada e adequadamente se expressar, tanto mais difícil de entender será o
resultado literário, ao passo que quando o faz de forma relaxada e
irresponsável se vê recompensado com uma segura inteligibilidade. De nada serve
evitar asceticamente todos os elementos da linguagem especializada e todas as
alusões a esferas culturais não estabelecidas. O rigor e a pureza da textura
verbal, inclusive na extrema simplicidade, criam antes um vazio. O desmazelo, o
nadar com a corrente familiar do discurso, é um sinal de vinculação e de contato:
sabe-se o que se quer porque se sabe o que o outro quer. Enfrentar a coisa na
expressão, em vez da comunicação, é suspeitoso: o específico, o que não está
acolhido no esquematismo, parece uma desconsideração, um sintoma de
excentricidade, quase de confusão. A lógica do nosso tempo, que tanto se ufana
da sua claridade, acolheu ingenuamente tal perversão na categoria da linguagem
quotidiana.
A expressão vaga permite a quem a ouve
ter uma ideia aproximada do que é que lhe agrada e do que, de qualquer modo,
opina. A rigorosa exige a univocidade da concepção, o esforço do conceito,
qualidades de que os homens conscientemente se desacostumam, e encoraja-os à
suspensão dos juízos correntes perante todo o conteúdo e, assim, a uma
automarginalização a que energicamente resistem. É-lhes inteligível só o que
não precisam de compreender; só o verdadeiramente alienado, a palavra cunhada
pelo comércio, os afeta como familiar que é. Poucas coisas há que tanto
contribuam para a desmoralização dos intelectuais. Quem pretender evitá-la
deverá, em todo o conselho de atender só à comunicação, vislumbrar uma traição
ao comunicado."
Theodore
Adorno, in Minima Moralia
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