Que quando só vislumbrei graça de carinha
e riso e boca, e os compridos cabelos, num enquadro de janela, pôr mal aceso de
uma lamparina. A gente estava em maio. Quero bem a esses maios, o sol bom, o
frio de saúde, as flores no campo, os finos ventos maiozinhos. A frente da
fazenda, num tombado, respeitava para o espigão, para o céu. Entre os currais e
o céu, tinha só um gramado limpo e uma restinga de cerrado, de onde descem
borboletas brancas, que passam entre as réguas da cerca. Ali, a gente não vê o
virar das horas. E a fogo-apagou sempre cantava, sempre. Para mim, até hoje, o
canto da fogo-apagou tem um cheiro de folhas de assa-peixe. Mas, na beira da
alpendrada, tinha um canteirozinho de jardim, com escolha de poucas flores. Das
que sobressaiam, era uma flor branca — que fosse caeté, pensei, e parecia um
lírio — alteada e muito perfumosa. E essa flor é figurada, o senhor sabe?
Morada em que tem moças, plantam dela em porta da casa-de-fazenda. De propósito
plantam, para resposta e pergunta. Eu nem sabia. Indaguei o nome da flor. —
“Casa-comigo…” — Otacília baixinho me atendeu. E no dizer, tirou de mim os
olhos; mas o tiritozinho de sua voz eu guardei e recebi, porque era de
sentimento. Ou não era? Daquele curto lisim de dúvidas foi que minou meu
maisquerer. E o nome da flor era dito, tal, se chamava — mas para os namorados
respondido somente. Consoante, outras, as mulheres livres, dadas, respondem: —
“Dorme-comigo”.
Fala de Riobaldo, in Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa
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