segunda-feira, 1 de abril de 2013

Otacília

Que quando só vislumbrei graça de carinha e riso e boca, e os compridos cabelos, num enquadro de janela, pôr mal aceso de uma lamparina. A gente estava em maio. Quero bem a esses maios, o sol bom, o frio de saúde, as flores no campo, os finos ventos maiozinhos. A frente da fazenda, num tombado, respeitava para o espigão, para o céu. Entre os currais e o céu, tinha só um gramado limpo e uma restinga de cerrado, de onde descem borboletas brancas, que passam entre as réguas da cerca. Ali, a gente não vê o virar das horas. E a fogo-apagou sempre cantava, sempre. Para mim, até hoje, o canto da fogo-apagou tem um cheiro de folhas de assa-peixe. Mas, na beira da alpendrada, tinha um canteirozinho de jardim, com escolha de poucas flores. Das que sobressaiam, era uma flor branca — que fosse caeté, pensei, e parecia um lírio — alteada e muito perfumosa. E essa flor é figurada, o senhor sabe? Morada em que tem moças, plantam dela em porta da casa-de-fazenda. De propósito plantam, para resposta e pergunta. Eu nem sabia. Indaguei o nome da flor. — “Casa-comigo…” — Otacília baixinho me atendeu. E no dizer, tirou de mim os olhos; mas o tiritozinho de sua voz eu guardei e recebi, porque era de sentimento. Ou não era? Daquele curto lisim de dúvidas foi que minou meu maisquerer. E o nome da flor era dito, tal, se chamava — mas para os namorados respondido somente. Consoante, outras, as mulheres livres, dadas, respondem: — “Dorme-comigo”.
Fala de Riobaldo, in Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa

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