“Um
estranho paradoxo: as pessoas, quando agem, têm em mente o interesse privado
mais mesquinho, mas ao mesmo tempo, no seu comportamento, são mais do que nunca
determinadas pelo instinto das massas. E mais do que nunca, o instinto das
massas tornou-se errado. O obscuro instinto do animal - como inúmeros episódios
o comprovam - encontra a saída para o perigo iminente, mas ainda invisível. Em
contrapartida, esta sociedade, onde cada um tem apenas em vista o seu próprio
interesse mesquinho, sucumbe como uma massa cega, com estupidez animal mas sem
a estúpida sabedoria dos animais, a todo o perigo, ainda que muito próximo, e a
diversidade dos objetivos torna-se insignificante, ante a identidade das forças
determinantes.
Muitas vezes se tem demonstrado que é tão
rígida a sua fixação à vida habitual, mas de há muito perdida, que acaba por não
se verificar a aplicação efetivamente humana do intelecto, a previdência, até
mesmo ante o perigo iminente. Assim a imagem da estupidez completa-se nela:
insegurança, ou mesmo perversão dos instintos vitais, e desfalecimento ou até
decadência do intelecto."
Walter
Benjamin, in Rua de Sentido Único
Nenhum comentário:
Postar um comentário