“Uma das causas da infelicidade, da fadiga e da
tensão nervosa é a incapacidade para tomar interesse por tudo o que não tenha
uma importância prática na vida. Daí resulta que o consciente está sempre
ocupado com um número restrito de problemas, cada um dos quais comporta
certamente algumas inquietações e cuidados. A não ser no sono, o consciente
nunca repousa para o subconsciente amadurecer gradualmente os problemas
inquietantes. Sobrevêm assim a excitabilidade, a falta de prudência, a
irritabilidade e a perda do sentido das proporções. Tudo isto tanto são causas
como efeitos da fadiga. À medida que aumenta a fadiga no homem, diminuem os
seus interesses exteriores, e à medida que estes diminuem perde o descanso que
eles lhe proporcionavam e fatiga-se ainda mais.
Este círculo vicioso não pode deixar de conduzir a
uma depressão nervosa. O que é repousante nos interesses exteriores é o fato de
não exigirem qualquer ação. Tomar decisões e exercer a sua vontade é bastante
fatigante, especialmente quando é necessário fazê-lo apressadamente e sem o
auxílio do subconsciente. Têm razão os que pensam que ‘a noite é boa
conselheira’ e que devem dormir primeiro antes de tomar alguma decisão importante,
mas não é somente no sono que o processo mental do subconsciente pode
realizar-se.
Pode
igualmente realizar-se quando o consciente está ocupado em qualquer outra
coisa. O homem que consegue esquecer o seu trabalho quando este finda e não
pensa mais nele até o dia seguinte, fá-lo-á provavelmente muito melhor do que
um outro que se atormente a pensar nele em todo o tempo de descanso. E se tiver
outros interesses além do seu trabalho, ser-lhe-á muito mais fácil esquecê-lo
quando é preciso. É essencial, no entanto, que esses interesses não ocupem as
faculdades já exaustas por um dia de labor. Não devem exigir esforços de
vontade nem prontas decisões; não devem também, como o jogo, compreender um
elemento financeiro, e duma maneira geral não devem ser excitantes ao ponto de
produzirem uma fadiga emocional e absorverem ao mesmo tempo o subconsciente e o
consciente.”
Bertrand Russell, in A Conquista da Felicidade
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