“Uma
das formas mais universais de irracionalidade é a atitude tomada por quase toda
a gente em relação às conversas maldizentes. Muito poucas pessoas sabem
resistir à tentação de dizer mal dos seus conhecimentos e mesmo, se a ocasião
se proporciona, dos seus amigos; no entanto, quando sabem que alguma coisa foi
dita em seu desabono, enchem-se de espanto e indignação. Certamente nunca lhes
ocorreu ao espírito que da mesma forma que dizem mal de não importa quem,
alguém possa dizer mal deles. Esta é uma forma atenuada da atitude que, quando
exagerada, conduz à mania da perseguição.
Exigimos de toda a gente o mesmo
sentimento de amor e de profundo respeito que sentimos por nós próprios. Nunca
nos ocorre que não devemos exigir que os outros pensem melhor de nós do que nós
pensamos a respeito deles e não nos ocorre porque aos nossos olhos os méritos
são grandes e evidentes ao passo que os dos outros, se na realidade existem, só
são reconhecidos com certa benevolência. Quando o leitor ouve dizer que alguém
disse qualquer coisa desprimorosa a seu respeito, lembra-se logo das noventa e
nove vezes que reprimiu o desejo de exprimir, sobre esse alguém, a crítica que
considerava justa e merecida, e esquece-se da centésima vez em que, num momento
de desatenção, afirmou a respeito dele o que julgava ser a verdade. Esta é a
recompensa, perguntará a si próprio, de toda a minha longa indulgência? O
problema, visto do lado oposto, apresenta-se de uma forma diferente: ele nada
sabe das noventa e nove vezes em que o leitor se calou, conhece apenas a
centésima vez em que falou."
Bertrand Russell,
in A Conquista da Felicidade
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