"Lampião
e Lancelote" é um livro escrito e ilustrado por Fernando Vilela e retrata
o lendário encontro do famoso cangaceiro do sertão nordestino com um dos
cavaleiros medievais da Távola-Redonda. Sua recente adaptação para o teatro foi
realizada pelo escritor e compositor Braulio Tavares, que também participa da
criação da trilha sonora em parceria com Zeca Baleiro.
Foto: Julia Moraes/SESI
O
que aconteceria se o famoso cangaceiro do sertão nordestino se encontrasse com
um dos cavaleiros medievais da Távola-Redonda? Esse lendário encontro foi
escrito e ilustrado por Fernando Vilela e utiliza o duelo entre as duas figuras
como mote para compor a obra. Lampião e Lancelote (Cosac Naify, 2006)
mescla versos (sextilha do cordel sertanejo) e prosas (narrativas épicas
medievais), utilizando técnicas e cores distintas, como a xilogravura (cobre) e
o carimbo (prata), que enriquecem visualmente o encontro épico. O compositor e
escritor Braulio Tavares assina a quarta capa de Lampião e Lancelote e
define a obra como uma "aventura visual e poética à altura das duas
culturas que a inspiraram". A parceria entre Vilela e Tavares que deu tão
certo que a obra transformou-se em peça teatral, adaptada pelo poeta
campinense.
Trecho do livro Lampião e Lancelote (Cosac
Naify, 2006), escrito e ilustrado por Fernando Vilela
Trecho do livro Lampião e Lancelote (Cosac
Naify, 2006), escrito e ilustrado por Fernando Vilela
Muitos
são os símbolos que estabelecem a divisão entre os universos de Lampião e
Lancelote: o quente e o frio, a peixeira e a espada (até mesmo o emprego dos
termos "peleja" e o "duelo" ratificam esses universos
distintos). O jogo de luzes quentes e frias brinca com a "divisão de
mundos" criando contrapontos visuais, de modo a reconstruir suas
atmosferas e as personalidades dos dois povos. Há também uma
"disputa", mais indireta, que se desenvolve durante a trama definindo
o modo pelo qual as mulheres dos heróis Lampião e Lancelote - Maria Bonita e
Morgana - travam relações com seus parceiros íntimos.
Foto: Julia Moraes/SESI
Foto: Julia Moraes/SESI
Muitos
são os símbolos que estabelecem a divisão entre os universos de Lampião e
Lancelote: o quente e o frio, a peixeira e a espada (até mesmo o emprego dos
termos "peleja" e o "duelo" ratificam esses universos
distintos). O jogo de luzes quentes e frias brinca com a "divisão de
mundos" criando contrapontos visuais, de modo a reconstruir suas
atmosferas e as personalidades dos dois povos. Há também uma
"disputa", mais indireta, que se desenvolve durante a trama definindo
o modo pelo qual as mulheres dos heróis Lampião e Lancelote - Maria Bonita e
Morgana - travam relações com seus parceiros íntimos.
Foto: Julia Moraes/SESI
Mas
se a atmosfera visual de Lampião e Lancelote encanta, seu universo
sonoro é igualmente fascinante e envolvente. A linguagem do Cordel e da novela
de cavalaria ganharam uma rica trilha sonora, fruto da parceria de Braulio
Tavares e Zeca Baleiro. Podemos considerar a rabeca (um dos instrumentos que é
tocado ao vivo durante o espetáculo) como o instrumento que melhor
representaria nosso sincretismo cultural: ela também é conhecida como o
"violino brasileiro" e, apesar de seu tom ser mais baixo e de não
possuir um padrão universal de construção como seu parente europeu, tornou-se
um instrumento popular na Península Ibérica e chegou ao Brasil durante a
colonização portuguesa.
Já
disse Câmara Cascudo que "a atitude de cantar é uma afirmativa imediata,
suprema, irrespondível, de elevação. É um ludus no nível divinizador do impulso
sonoro, comunicação com as forças confusas, abstratas, envolvedoras da
inspiração." A música nasce para perpetuar "causos", mitos,
alegrias e dores, conquistas e derrotas; serve aos povos como elo de ligação
cultural e reforça crenças. Humaniza. E transcende os limites do tempo e do
espaço ao recriar constantemente o ritmo da história de todos nós.
A peça fica em cartaz de 14 de março a 30
de junho de 2013 no Centro Cultural Fiesp Ruth Cardoso, Teatro Sesi - São Paulo.
Anna Anjos, in lounge.obviousmag.org
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