“Se os deuses deliberaram sobre mim e
sobre o que deve acontecer-me, deliberaram bem, pois não é fácil de imaginar um
deus que não delibere. Quanto a fazer-me mal, por que teriam eles qualquer
desejo nesse sentido? Que vantagem resultaria disso para eles ou para o todo,
que é o objeto principal de sua Providência? Se eles não deliberaram sobre mim
como indivíduo, certamente determinaram ao menos sobre o todo, e o que acontece
por via de consequência nessa ordenação geral eu devo aceitar de bom grado e
dar-me por satisfeito. Mas se eles não deliberarem sobre coisa alguma (seria
ímpio crer nisso; então, não deveríamos mais sacrificar, nem orar, nem jurar
por eles, nem fazer mais nada do que fazíamos na crença de que os deuses
estivessem presentes e ligados às nossas vidas), se, com efeito, eles não
deliberam sobre aquilo que nos diz respeito, é a mim que cabe deliberar sobre
mim mesmo e eu posso indagar sobre o que me é conveniente. E convém a cada um o
que é conforme à sua própria constituição e natureza; e minha natureza é
racional e associativa."
Marco
Aurélio, in Meditações
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