sábado, 9 de março de 2013

Brincadeira profissional


Imagem: Google

Estamos aqui brincando de fazer quadrinhas. Já as pratiquei a sério e profissionalmente, mas escondido e em segredo. Foi em 65, quando Boal compunha com Caetano e Gil o Arena Canta Bahia. Augusto Boal passara seis meses no sertão da Bahia com Roberto Santana, recolhendo material folclórico. Usando-o na composição, os três primeiros armavam pequenos quadros de costumes nordestinos e o enredo de uma sucinta biografia de Lampião. De vez em quando, no costurar do tecido, faltava uma ligação para unir dois blocos daquela colcha de retalhos.
“Que pena! Puxa vida! Estava ficando tão bom… Mas não dá” etc.
Eu intervinha:
“Creio que conheço uma estrofe de cantiga de roda que faria bem essa ligação. Vou ver se me lembro”. Ia pra casa, fazia a “cantiga de folclore”, no outro dia chegava no ensaio e dizia, bem casual:
“Ah, sabe aquela ligação? Me lembrei dos versos”.
A estrofe dava certinha no elo faltante. Todo mundo comemorava e eu dizia:
“Puxa, é mesmo, dá na medida!”.
Tom Zé, in Tropicalista lenta luta

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