"Uma
das mais remotas experiências poéticas que me ocorre é a de uma composição
escolar no 3º ano primário, que eu terminava assim: "Olhai os lírios do
campo. Nem Salomão, com toda sua glória, se vestiu como um deles...".
A professora tinha lido este evangelho na
hora do catecismo e fiquei atingida na minha alma pela sua beleza. Na primeira
oportunidade aproveitei a sentença na composição que foi muito aplaudida, para
minha felicidade suplementar. Repetia em casa composições, poesias, era
escolhida para recitá-las nos auditórios, coisa que durou até me formar
professora primária. Tinha bons ouvintes em casa. Aplaudiam a filha que tinha
"muito jeito pra essas coisas". Na adolescência fiz muitos sonetos à
Augusto dos Anjos, dando um tom missionário, moralista, com plena aceitação do
furor católico que me rodeava. A palavra era poderosa, podia fazer com ela o
que eu quisesse."
Adélia
Prado
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