“O esquecimento não é só uma vis inertioe, como creem os espíritos
superfinos; antes é um poder ativo, uma faculdade moderadora, à qual devemos o
fato de que tudo quanto nos acontece na vida, tudo quanto absorvemos, se
apresenta à nossa consciência durante o estado da ‘digestão’ (que poderia chamar-se
absorção física), do mesmo modo que o multíplice processo da assimilação corporal
tão pouco fatiga a consciência. Fechar de quando em quando as portas e janelas
da consciência, permanecer insensível às ruidosas lutas do mundo subterrâneo
dos nossos órgãos; fazer silêncio e tábua rasa da nossa consciência, a fim de
que aí haja lugar para as funções mais nobres para governar, para rever, para
pressentir (porque o nosso organismo é uma verdadeira oligarquia): eis aqui,
repito, o ofício desta faculdade ativa, desta vigilante guarda encarregada de
manter a ordem física, a tranquilidade, a etiqueta. Donde se coligue que
nenhuma felicidade, nenhuma serenidade, nenhuma esperança, nenhum gozo presente
poderiam existir sem a faculdade do esquecimento.”
Friedrich
Nietzsche, in A Genealogia da Moral
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