“Um sério obstáculo ao contentamento é a
nossa falência em moderar a ambição, como um navegante riza as suas velas, de
acordo com a energia disponível. As nossas expectativas são exageradas, e
quando não alcançamos o esperado, culpamos a fortuna e o destino, em vez de
culpar a nossa própria insensatez. Não é a má sorte que impede alguém de
flechar com arado ou caçar coelhos com boi; não é uma deidade maligna que nos
obsta a que peguemos veados ou ursos com vara de pescar; tentar o impossível é
estupidez e tolice. O culpado é o egotismo, que impele os homens a ansiarem
pela primazia e pela vitória em todos os campos, e a nutrirem o irreprimível
desejo de se apoderar de todas as coisas. Eles não apenas reivindicam o direito
de serem, a um tempo, ricos, amigos de reis e governantes de uma cidade, como
se sentem frustrados se não possuem cães de raça, cavalos de puro-sangue, codornizes
e galos de escol.
Plutarco, in Do
Contentamento
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