“Outra
coisa que não parece ser entendida pelos outros é quando me chamam de
intelectual e eu digo que não sou. De novo, não se trata de modéstia e sim de
uma realidade que nem de longe me fere. Ser intelectual é usar sobretudo a
inteligência, o que eu não faço: uso é a intuição, o instinto. Ser intelectual
é também ter cultura, e eu sou tão má leitora que agora já sem pudor, digo que
não tenho mesmo cultura. Nem sequer li as obras importantes da humanidade.
[...]
Literata também não sou porque não tornei o fato de escrever livros ‘uma
profissão’, nem uma ‘carreira’. Escrevi-os só quando espontaneamente me vieram,
e só quando eu realmente quis. Sou uma amadora?
O
que sou então? Sou uma pessoa que tem um coração que por vezes percebe, sou uma
pessoa que pretendeu pôr em palavras um mundo ininteligível e um mundo
impalpável. Sobretudo uma pessoa cujo coração bate de alegria levíssima quando
consegue em uma frase dizer alguma coisa sobre a vida humana ou animal.”
Clarice
Lispector
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