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A força do poder nasce e morre no
estuário da vulnerabilidade. No que se refere à condição humana. No que tange
ao “sistema” essa força é permanente e fora do controle pessoal.
O poder engravida de vaidade, presunção,
luminosidade e sensação de potência. Tudo isso convive na gestação. Ao fim, dá
à luz a solidão. O Ex é um cultivador do capim que prospera no batente do seu
retiro.
Algumas
cenas brutais desse contraste ficaram tatuadas na memória como símbolos da
repetição quase monótona do ritual desse teatro.
Uma delas com a
esposa de Mao Tsé-Tung, após ser despojada da mais fantástica soma de poderes
que já teve uma mulher. Senhora da vida e da morte numa nação. No tribunal,
onde se punha para ser julgada, ela tentou impor sua autoridade. Foi subjugada
por um simples soldado; esbofeteada e algemada, em público.
Na Libéria, todo
o Ministério do governo deposto foi amarrado em estacas, para a humilhação
pública, antes da execução. Alguns, como o Ministro da Defesa, defecaram nas
calças. O único que manteve a dignidade foi o Ministro da Agricultura, o menos
poderoso do grupo.
Na sua dacha,
Nikita Kruschev, ex-senhor da União Soviética, cultivava tomates e ostracismo.
Certa vez, ao passar por uma plantação reclamou do proprietário sobre o método
empregado naquele cultivo de tomates. O agricultor, ao reconhecê-lo, respondeu:
“Passe calado, pois você não manda mais em nada”.
Vi, numa ocasião,
Cortez Pereira ser destratado por um ex-bajulador. O fim do poder produz o
ex-chefe e o ex-babão.
Luiz Maria Alves,
tempos do Diário de Natal, tinha assento de honra aonde chegasse. Testemunhei
um episódio que configura o presente texto. Na promulgação da Lei Orgânica de
Natal, de cuja sistematização participei, o ilustre jornalista já havia deixado
a direção do Diário e tentava fundar um ouro jornal.
No início da
solenidade, ele entra e ninguém toma conhecimento. Ficou em pé, com o braço
escorado na soleira de uma janela. Incomodado com o descaso, fui até ele,
peguei-o pelo braço e o fiz sentar-se na minha cadeira. O Presidente Sid
Fonseca determinou que se providenciasse outra cadeira para mim.
Não foi só pela
dívida de gratidão que tinha com ele, quando de uma discussão com o então
Secretário de Segurança, Coronel Delgado. Precisei responder ao Secretário
sobre uma declaração ameaçadora que ele me fizera.
Preparei um texto
duro e fui bater à porta da imprensa. Ao passar pela Rio Branco, avistei Luiz
Maria Alves. Aproximei-me e perguntei se podia entregar-lhe aquele texto. Ele
pegou o cachimbo com a mão esquerda e com a direita recebeu o envelope.
No dia seguinte,
a carta estava publicada no Diário de Natal, com chamada em destaque na
primeira página.
Meu
pequeno gesto foi imitação do seu gesto maior. Té mais.
François
Silvestre, in Novo
Jornal
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