“É
a simpatia um dos prodígios selados da natureza; mas os seus efeitos são
matéria do pasmo, são assunto da admiração. Consiste num parentesco dos
corações, se a antipatia for um divórcio das vontades.
Alguns
dão-lhe origem na correspondência em temperamentos; outros, na irmandade dos
astros. Aspira aquela a obrar milagres, e esta monstruosidades. São prodígios
da simpatia os que a comum ignorância reduz a efeitos e a vulgaridade a
encantos.
A
mais culta perfeição sofreu desprezos da antipatia, e a mais inculta fealdade
logrou finezas da simpatia. Até entre pais e filhos pretendem jurisdição e
executam a cada dia a sua potência, atropelando leis e frustrando privilégios
de natureza e política. Perde reinos a antipatia de um pai e dá-os uma
simpatia.
Tudo alcançam os méritos da simpatia;
persuade sem eloquência e recolhe quanto queira, presenteando memoriais de
harmonia natural. A simpatia realçada é caráter, é estrela de heroicidade; mas
alguns há de gosto ímã, que mantêm antipatia com o diamante e simpatia com o
ferro. Monstruosidade da natureza, apetecer escória e asquerar o luzimento.”
Baltasar
Gracián y Morales, in O Herói
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