O romance de Riobaldo e Diadorim
Quando eu vi
aqueles olhos,
Verdes como nenhum pasto,
Cortantes palhas de cana,
De lembrá-los não me gasto.
Desejei não fossem embora,
E deles nunca me afasto.
Verdes como nenhum pasto,
Cortantes palhas de cana,
De lembrá-los não me gasto.
Desejei não fossem embora,
E deles nunca me afasto.
Vivemos a desventura
De um mal de amor oculto,
Que cresceu dentro de nós
Como sombra, feito um vulto.
Que não conheceu afago,
Só guerra, fogo e insulto.
De um mal de amor oculto,
Que cresceu dentro de nós
Como sombra, feito um vulto.
Que não conheceu afago,
Só guerra, fogo e insulto.
Na noite-grande-fatal,
O meu amor encantou-se.
Desnudo corpo inteiro
Desencantado mostrou-se.
E o que era um segredo,
Sem mais nada revelou-se.
O meu amor encantou-se.
Desnudo corpo inteiro
Desencantado mostrou-se.
E o que era um segredo,
Sem mais nada revelou-se.
Sob as roupas
de jagunço,
Corpo de mulher eu via.
A deus, já dada, sem vida,
O vau da minha alegria.
Diadorim, diadorim…
Minha incontida sangria.
Corpo de mulher eu via.
A deus, já dada, sem vida,
O vau da minha alegria.
Diadorim, diadorim…
Minha incontida sangria.
Composição: Antonio Nóbrega e Wilson Freire
Diadorim e eu, nós dois. A gente dava
passeios. Com assim, a gente se diferenciava dos outros – porque jagunço não é
muito de conversa continuada nem de amizades estreitas: a bem eles se misturam
e desmisturam, de acaso, mas cada um é feito um por si. De nós dois juntos,
ninguém nada não falava. Tinham a boa prudência. Dissesse um, caçoasse, digo –
podia morrer. Se acostumavam de ver a gente parmente. Que nem mais maldavam. E
estávamos conversando, perto do rego – bicame de velha fazenda, onde o agrião
dá flor. Desse lusfús, ia escurecendo. Diadorim acendeu um foguinho, eu fui
buscar sabugos. Mariposas passavam muitas, por entre as nossas caras, e
besouros graúdos esbarravam. Puxava uma brisbisa. O ianso do vento revinha com
o cheiro de alguma chuva perto. E o chiim dos grilos ajuntava o campo, aos
quadrados. Por mim, só, de tantas minúcias, não era o capaz de me alembrar, não
sou de à parada pouca coisa; mas a saudade me alembra. Que se hoje fosse.
Diadorim me pôs o rastro dele para sempre em todas essas quisquilhas da
natureza. Sei como sei. Som como os sapos sorumbavam. Diadorim, duro sério, tão
bonito, no relume das brasas. Quase que a gente não abria boca; mas era um
delém que me tirava para ele – o irremediável extenso da vida. Por mim, não sei
que tontura de vexame, com ele calado eu a ele estava obedecendo quieto.
Guimarães
Rosa, in Grande Sertão: Veredas
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