“Das ocorrências indesejadas, falando de maneira genérica,
algumas acarretam naturalmente dor e vexação, mas, na maior parte dos casos, é
falsa a noção que nos habituou a nos enfadarmos com elas. Como específico
contra este tipo de ocorrência, é conveniente ter à mão um dito de Menandro: ‘Nada
te aconteceu de fato enquanto não te importares muito com o ocorrido’. Isso
quer dizer que não há motivo para o teu corpo e a tua alma se mostrarem afetados
se, por exemplo, o teu pai é de baixa extração, a tua mulher cometeu adultério,
tu mesmo te viste privado de alguma coroa honorífica ou privilégio especial,
pois nada disso te impede de prosperar de corpo ou alma.
Para a
primeira categoria - doenças, privações, a morte de amigos ou filhos -, que
parece acarretar naturalmente dor e vexação, esta linha de Eurípedes deve estar
à mão: ‘Ai! por que ai? É o quinhão da mortalidade que nos coube’. Nenhum outro
argumento lógico pode romper de forma tão efetiva a espiral descendente das
nossas emoções, do que a reflexão de que somente através da compulsão comum da
Natureza, um dos elementos da sua constituição física, é que o homem se torna
vulnerável à Fortuna; nos seus aspectos principais e essenciais, permanece
seguro.”
Plutarco, in Do
Contentamento
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