domingo, 6 de janeiro de 2013

O homem se torna vulnerável à Fortuna

“Das ocorrências indesejadas, falando de maneira genérica, algumas acarretam naturalmente dor e vexação, mas, na maior parte dos casos, é falsa a noção que nos habituou a nos enfadarmos com elas. Como específico contra este tipo de ocorrência, é conveniente ter à mão um dito de Menandro: ‘Nada te aconteceu de fato enquanto não te importares muito com o ocorrido’. Isso quer dizer que não há motivo para o teu corpo e a tua alma se mostrarem afetados se, por exemplo, o teu pai é de baixa extração, a tua mulher cometeu adultério, tu mesmo te viste privado de alguma coroa honorífica ou privilégio especial, pois nada disso te impede de prosperar de corpo ou alma.
Para a primeira categoria - doenças, privações, a morte de amigos ou filhos -, que parece acarretar naturalmente dor e vexação, esta linha de Eurípedes deve estar à mão: ‘Ai! por que ai? É o quinhão da mortalidade que nos coube’. Nenhum outro argumento lógico pode romper de forma tão efetiva a espiral descendente das nossas emoções, do que a reflexão de que somente através da compulsão comum da Natureza, um dos elementos da sua constituição física, é que o homem se torna vulnerável à Fortuna; nos seus aspectos principais e essenciais, permanece seguro.”
Plutarco, in Do Contentamento

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