“Riobaldo, se lembra certo da senhora sua
mãe? Me conta o jeito de bondade que era a dela...” (...) Na ação de ouvir, digo ao senhor,
tive um menos gosto, na ação da pergunta. Só faço, que refugo, sempre quando
outro quer direto saber o que é próprio o meu no meu, ah. Mas desci disso, o
minuto, vendo que só mesmo Diadorim era que podia acertar esse tento, em sua
amizade delicadeza. Ao que entendi. Assim devia de ser. Toda mãe vive de boa,
mas cada uma cumpre sua paga prenda singular, que é a dela e dela, diversa
bondade. E eu nunca tinha pensado nessa ordem. Para mim, minha mãe era a minha
mãe, essas coisas. Agora, eu achava. A bondade especial de minha mãe tinha sido
a de amor constando com a justiça, que eu menino precisava. E a de, mesmo no
punir meus demaseios, querer-bem às minhas alegrias. A lembrança dela me
fantasiou, fraseou – só face dum momento – feito grandeza cantável, feito entre
madrugar e amanhecer.”
Guimarães
Rosa, in Grande Sertão: Veredas
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