quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Rastros nas Areias Brancas


Nove anos depois de A Velhinha de Preto, o escritor José Nicodemos, último cronista ativo e diário da velha-guarda de Mossoró, lança nova coletânea. Retratos nas Areias Brancas é resultado de um trabalho minucioso de seleção e organização realizado pelo poeta e escritor Raimundo Leontino Filho. Foram meses de pesquisa averiguando centenas de arquivos digitais e físicos do Jornal De Fato – onde Nicodemos mantém uma coluna diária – para chegar a essas pouco mais de 200 páginas de pura elucidação literária do mundo nicodemiano.
Esse eterno praiano, ribeirinho de mar alheio, impregna na palavra um olhar muito particular do mundo que lhe rodeia. Cheio de lembranças de uma terra eternizada pela anacrônica percepção dos poetas prosaicos, Nicodemos extrapola no seu próprio absurdo. Às vezes, um memorialista, um saudosista, mas quase sempre um ferreiro do ato. “Há quem prefira o silencia para escrever. Para mim, tanto faz,…”. Para um colecionador de saudades, Nicó, como gostamos de chamá-lo, é um compilador de questões, um arrebanhador de palavras simples e gestos iguais. Não esconde a preocupação com a perfeição da frase, mas não esbanja nas divagações. Nicodemos é um pescador conversando com seu peixe.
“Ninguém ama o que não conhece. A frase não é minha, também não sei nomear o autor. Desimporta, ou importa menos”. Falando assim, simplifica o fato. O que importa é a questão, não a literatura em si, o que está fechado no vocábulo ou na oração. A literatura não é a forma, mas o raciocínio, o pensamento, a ação coisificada, e disso Nicodemos entende bem. Ser cotidiano não é esforço, mas desprendimento do inatingível. As crônicas de uma página e meia são para o consumo humano das pessoas normais, os intelectuais e estudiosos das formas que se esforcem para descer dos seus patamares para encontrar no descompromisso de Nicó a universalidade da palavra.
Produzido por meios de uma parceria entre a editora Sarau das Letras e a Coleção Mossoroense, Retratos nas Areias Brancas, diagramado pelo arte-designer Augusto Paiva é um trabalho completo e necessário. O editor Clauder Arcanjo tem se superado frequentemente na feitura de seus livros. Neste, exprime sobriedade a partir da capa.
José de Paiva Rebouças, escritor e poeta mossoroense

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