Nove anos depois de A Velhinha de Preto,
o escritor José Nicodemos, último cronista ativo e diário da velha-guarda de
Mossoró, lança nova coletânea. Retratos nas Areias Brancas é resultado de um
trabalho minucioso de seleção e organização realizado pelo poeta e escritor
Raimundo Leontino Filho. Foram meses de pesquisa averiguando centenas de
arquivos digitais e físicos do Jornal De Fato – onde Nicodemos mantém uma
coluna diária – para chegar a essas pouco mais de 200 páginas de pura
elucidação literária do mundo nicodemiano.
Esse eterno praiano, ribeirinho de mar
alheio, impregna na palavra um olhar muito particular do mundo que lhe rodeia.
Cheio de lembranças de uma terra eternizada pela anacrônica percepção dos
poetas prosaicos, Nicodemos extrapola no seu próprio absurdo. Às vezes, um
memorialista, um saudosista, mas quase sempre um ferreiro do ato. “Há quem
prefira o silencia para escrever. Para mim, tanto faz,…”. Para um colecionador
de saudades, Nicó, como gostamos de chamá-lo, é um compilador de questões, um
arrebanhador de palavras simples e gestos iguais. Não esconde a preocupação com
a perfeição da frase, mas não esbanja nas divagações. Nicodemos é um pescador
conversando com seu peixe.
“Ninguém ama o que não conhece. A frase
não é minha, também não sei nomear o autor. Desimporta, ou importa menos”.
Falando assim, simplifica o fato. O que importa é a questão, não a literatura
em si, o que está fechado no vocábulo ou na oração. A literatura não é a forma,
mas o raciocínio, o pensamento, a ação coisificada, e disso Nicodemos entende
bem. Ser cotidiano não é esforço, mas desprendimento do inatingível. As
crônicas de uma página e meia são para o consumo humano das pessoas normais, os
intelectuais e estudiosos das formas que se esforcem para descer dos seus
patamares para encontrar no descompromisso de Nicó a universalidade da palavra.
Produzido
por meios de uma parceria entre a editora Sarau das Letras e a Coleção
Mossoroense, Retratos nas Areias Brancas, diagramado pelo arte-designer Augusto
Paiva é um trabalho completo e necessário. O editor Clauder Arcanjo tem se
superado frequentemente na feitura de seus livros. Neste, exprime sobriedade a
partir da capa.
José
de Paiva Rebouças,
escritor e poeta mossoroense
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