Imagem: Google
Digo: outro mês, outro longe – na
Aroeirinha fizemos paragem. Ao que, num portal, vi uma mulher moça, vestida de
vermelho, se ria. – “Ô moço da barba feita...” – ela falou. Na frente da boca,
ela quando ria tinha os todos dentes, mostrava em fio. Tão bonita, só. Eu apeei
e amarrei o animal num pau da cerca. Pelo dentro, minhas pernas doíam, por
tanto que desses três dias a gente se sustava de custoso varar: circunstância
de trinta léguas. Diadorim não estava perto, para me reprovar. De repente,
passaram, aos galopes e gritos, uns companheiros, que tocavam um boi preto que
iam sangrar e carnear em beira d’água. Eu nem tinha começado a conversar com
aquela moça, e a poeira forte que deu no ar ajuntou nós dois, num grosso rojo
avermelhado. Então eu entrei, tomei um café coado por mão de mulher, tomei
refresco, limonada de pêra-do-campo. Se chamava Nhorinhá. Recebeu meu carinho
no cetim do pêlo – alegria que foi, feito casamento, esponsal. Ah, a mangaba
boa só se colhe já caída no chão, de baixo... Nhorinhá. Depois ela me deu de
presente uma presa de jacaré, para traspassar no chapéu, com talento contra
mordida de cobra; e me mostrou para beijar uma estampa de santa, dita meia
milagrosa. Muito foi.
Guimarães
Rosa, in Grande Sertão: Veredas
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