“Vale mais ser amado ou temido (na
chefia)? O ideal é ser as duas coisas, mas como é difícil reunir as duas
coisas, é muito mais seguro - quando uma delas tiver que faltar - ser temido do
que amado. Porque, dos homens em geral, se pode dizer o seguinte: que são
ingratos, volúveis, fingidos e dissimulados, fugidios ao perigo, ávidos do
ganho. E enquanto lhes fazeis bem, são todos vossos e oferecem-vos a família,
os bens pessoais, a vida, os descendentes, desde que a necessidade esteja bem
longe. Mas quando ela se avizinha, contra vós se revoltam. E aquele príncipe
que tiver confiado naquelas promessas, como fundamento do seu poder,
encontrando-se desprovido de outras precauções, está perdido. É que as amizades
que se adquirem através das riquezas, e não com grandeza e nobreza de caráter,
compram-se, mas não se pode contar com elas nos momentos de adversidade. Os
homens sentem menos inibição em ofender alguém que se faça amar do que outro
que se faça temer, porque a amizade implica um vínculo de obrigações, o qual,
devido à maldade dos homens, em qualquer altura se rompe, conforme as
conveniências. O temor, por seu turno, implica o medo de uma punição, que nunca
mais se extingue. No entanto, o príncipe deve fazer-se temer, de modo que, se não
conseguir obter a estima, também não concite o ódio.”
Maquiavel, in O
Príncipe
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