sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Os morangos

Imagem: Google

A vizinha espiou por cima do muro. 
- Bom dia, seu Agenor. 
- Bom dia. 
- Que lindos estão estes morangos, que maravilha. 
- O senhor não colhe, seu Agenor? Estão no ponto. 
- Não gosto de morangos. 
- Que pena, aqui em casa somos todos loucos por morangos. As crianças então nem se diga. Se não colher vão apodrecer no pé, uma judiação. 
- É. 
- Se o senhor não se incomodasse eu colhia um pouco. Já que o senhor não gosta de morangos. 
- Com licença, preciso pegar o ponto na repartição. 
- À vontade seu Agenor. E os morangos? 
- Não prestam para comer. Têm gosto de terra. 
- Pena, tão lindos! 
Saiu pra repartição. Voltou à noite. O luar batia em cheio no canteiro de morangos. Acercou-se em silêncio. Estavam bonitos mesmo. De dar água na boca. Pena que não pudesse comê-los. 
Suspirou fundo. 
Mariana, tão linda. Linda como uma flor. Mas tão desleixada, tão preguiçosa. Comida malfeita, roupa por lavar, pratos gordurosos. E aquele gênio! Sempre descontente, exigindo tudo o que não podia lhe dar, espezinhando-o diariamente pelo seu magro ordenado. 
Fora realmente uma gentil ideia plantar os morangos depois que a enterrara no jardim.
Giselda Laporta Nicolelis, in Contos Jovens

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