“Nunca
falei com meu pai a respeito depois que o Palmeiras foi rebaixado. Sei que ele
ficou sabendo. Ou imaginou. Só sei que no primeiro domingo depois da queda para
a Segunda pela segunda vez, seu Joelmir teve um derrame antes de ver a primeira
partida depois do rebaixamento. Ele passou pela tomografia logo pela manhã. Em
minutos o médico (corintianíssimo) disse que outro gigante não conseguiria se
reerguer mais.
No
dia do retorno à segundona dos infernos, meu pai começou a ir para o céu. As
chances de recuperação de uma doença autoimune já não eram boas. Ficaram quase
impossíveis com o que sangrou o cérebro privilegiado. Irrigado e arejado como
poucos dos muitos que o conhecem e o reconhecem. Amado e querido pelos não
poucos que tiveram o privilégio de conhecê-lo.
Morre
o jornalista Joelmir Beting.
Meu
pai.
O
melhor pai que um jornalista pode ser. O melhor jornalista que um filho pode
ter como pai.
O
Joelmir Beting. O meu pai. Um cara trabalhador. Um cara legal. O meu pai que me
faz um cara, inclusive, jeitoso. O melhor pai que um jornalista pode ser. O
melhor jornalista que um filho pode ter como pai.
Precisaria
dizer algo mais para o melhor Babbo do mundo que virou o melhor Nonno do
Universo? Sei disso. Preciso. Mas não sei. Normalmente ele sabia de tudo.
Quando não sabia, o Joelmir inventava com a mesma categoria com que falava
sobre o que sabia.
Todo
pai é assim para o filho. Mas um filho de jornalista que também é jornalista
fica ainda mais órfão. Nunca vi meu pai como um super-herói. Apenas como um
humano super. Só que jamais imaginei que ele pudesse ficar doente e fraco de
carne. Eu nunca admiti que nós pudéssemos perder quem só nos fez ganhar.
Por
isso sempre acreditei no meu pai e no time dele. O nosso time. O Palmeiras. Ele
me ensinou tantas coisas que eu não sei. Uma que ficou é que nem todas as
palavras precisam ser ditas. Devem ser apenas pensadas. Quem fala o que pensa
não pensa no que fala. Quem sente o que fala nem precisa dizer. Mas hoje eu
preciso agradecer pelos meus 46 anos. Pelos 49 de amor da minha mãe, Lucila. E
pelos 75 dele. Mais que tudo, pelo carinho das pessoas que o conhecem, logo
gostam dele. Especialmente pelas pessoas que não o conhecem, e algumas choraram
como se fosse um velho amigo.
Uma
coisa aprendi com você, Babbo. Antes de ser um grande jornalista é preciso ser
uma grande pessoa. Com o Joelmir aprendi que não tenho de trabalhar para ser um
grande profissional. Preciso tentar ser uma grande pessoa. Como você fez as
duas coisas.
Desculpem,
mas não vou chorar. Choro por tudo. Por isso choro sempre pela família, pelo
Palmeiras, amores, dores, cores, canções, pelas cores. Mas não vou chorar por
algo mais que tudo que existe no meu mundo que são meus pais. Meus pais, que
também deveriam se chamar minhas mães, sempre foram presentes. Um regalo
divino.
Meu
pai nunca me faltou mesmo ausente de tanto que trabalhou. Ele nunca me falta
porque teve a mulher maravilhosa que é dona Lucila. Segundo seu Joelmir, a
segunda maior coisa da vida dele. Que a primeira sempre foi o amor que ele
sentiu por ela desde 1960, quando se conheceram na rádio 9 de julho. Onde
fizeram família. Meu irmão e eu. Filhos também do rádio. Filhos de um jornalista
econômico pioneiro e respeitado, de um âncora de TV reconhecido e inovador, de
um mestre de comunicação brilhante e trabalhador.
Meu
pai.
Eu
sempre soube que jamais seria no ofício nem algo perto do que ele foi. Porque
raros foram tão bons na área dele. Raríssimos foram tão bons pais como ele.
Rarésimos foram tão bons maridos. Rarissíssimos foram tão boas pessoas. E não
existe outra palavra inventada para falar quão raro e caro palmeirense ele foi.
Mas sempre é bom lembrar que palmeirenses não se comparam. Não são mais. Não
são menos. São Palmeiras. Basta.
Como
ele um dia disse no anúncio da nova arena, em 2007, como esteve escrito no
vestiário do Palmeiras no Palestra, de 2008 até a reforma: “Explicar a emoção
de ser palmeirense a um palmeirense é totalmente desnecessário. E a quem não é
palmeirense… é simplesmente impossível”!
A
ausência dele não tem nome. Mas a presença dele ilumina de um modo que eu
jamais vou saber descrever. Como jamais saberei escrever o que é o Joelmir
Beting. Como todo pai de toda pessoa. Mais ainda quando é um pai que sabia em
40 segundos descrever o que era o Brasil. E quase sempre conseguia. Não vou
ficar mais 40 frases tentando descrever o que pude sentir por 46 anos.
Explicar
quem é Joelmir Beting é desnecessário. Explicar o que é meu pai não estar neste
mundo é impossível. Nonno, obrigado por amar a Nonna. Nonna, obrigado por amar
o Nonno. Os filhos desse amor, eu e Gianfranco, jamais serão órfãos. Como não
serão os seus netos.
Como
oficialmente eu soube agora, 1h15min desta quinta-feira, 29 de novembro, 32
anos e uma semana depois da morte do meu Nonno, o seu Angelo, pai da minha
guerreira Lucila. Joelmir José Beting foi encontrar o Pai da Bola Waldemar
Fiume nesta quinta-feira, 0h55min".
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