Os
mitos são criados nos grandes embates. E não foi diferente naquela escaldante
tarde de domingo, no confronto entre os times de Cachoeirinha e Gangorra, na
decisão de um torneio de futebol.
O
primeiro tempo terminou zero a zero, o mesmo placar no segundo tempo. A decisão
foi para a prorrogação. E já no primeiro minuto, aconteceu o lance, ainda hoje
discutido: se Rosálio da Sucata, o então jovem atacante do escrete da Gangorra,
foi derrubado ou jogou-se dentro da grande área. O juiz, incontinenti, marcou
pênalti.
E
aconteceu o que tinha que acontecer: invasão de campo, ameaças ao digníssimo
juiz e à sua ausente genitora, safanões entre os torcedores e os jogadores,
etc. E o Sol, com sua gratuita luz natural, dava os primeiros sinais do ocaso.
Depois
de trinta minutos de balbúrdia, em que foi necessária a intervenção do
delegado, de arma em punho, foi dado a ordem para a cobrança do pênalti, que
ficou a cargo de Celsino, um zagueiro brutamontes, com uns delicados pés 44
dentro de umas chuteiras costuradas por Zé Bonga.
Celsino
colocou a bola na marca e recuou até a trave de seu campo, fez carreira, meteu
o bicudo e só se ouviu o estouro.
No
lusco-fusco, as dúvidas surgiram: foi gol? Não foi? A bola rasgou a rede? Qual
não foi a surpresa quando todos deram conta que Celsinho, com o bicudo, tinha estourado a bola, que estava cravada acima do joelho dele.
Sem bola e sem iluminação natural, o
juiz, invocando o Princípio da Razoabilidade, decretou os dois times campeões,
para delírio das duas torcidas e dos jogadores. O problema nessa sábia e
inédita decisão foi o estremecimento, durante muitos anos, da relação entre a
FIFA e a Federação de Futebol de Pau dos Ferros. Mas isso é outra história.
Elilson
José Batista, in Inéditos & Afins
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