Há
quatro lendas referentes a Prometeu:
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De acordo com a primeira, ele foi amarrado a um penhasco no Cáucaso por ter
revelado aos homens os segredos dos deuses, e os deuses enviaram águias que se
alimentavam de seu fígado, perpetuamente renovado;
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De acordo com a segunda, Prometeu, angustiado pela dor que lhe causavam as
incessantes bicadas das águias, recostou-se cada vez mais sobre o penhasco, a
ponto de tornar-se parte dele;
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De acordo com a terceira, sua inconfidência foi esquecida ao cabo de milhares de
anos, assim como também os deuses, as águias, e ele próprio;
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De acordo com a quarta, todos acabaram por se enfadar com história tão sem
sentido. Os deuses se cansaram, as águias se cansaram, a ferida se cansou – e cicatrizou
normalmente.
Restou, apenas, a massa inexplicável do
penhasco. A lenda tentou explicar o inexplicável. Como ele teve origem num
elemento de verdade, teria mesmo que acabar no inexplicável.
Franz
Kafka, in Contos, fábulas e aforismos
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