Diz
que um leão enorme ia andando chateado, não muito rei dos animais, porque tinha
acabado de brigar com a mulher e esta lhe dissera poucas e boas (1).
Eis
que, subitamente, o leão defronta com um pequeno rato, o ratinho mais menor que
ele já tinha visto. Pisou-lhe a cauda e, enquanto o rato forçava inutilmente
pra escapar, o leão gritava: "Miserável criatura, estúpida, ínfima, vil,
torpe: não conheço na criação nada mais insignificante e nojento. Vou te deixar
com vida apenas para que você possa sofrer toda a humilhação do que lhe disse,
você, desgraçado, inferior, mesquinho, rato!" E soltou-o.
O
rato correu o mais que pode, mas, quando já estava a salvo, gritou pro leão:
"Será que V. Excelência poderia escrever isso pra mim? Vou me encontrar
com uma lesma que eu conheço e quero repetir isso pra ela com as mesmas
palavras!" (2)
(1) Quer dizer:
muitas e más.
(2) Na grande
hora psicanalítica, que soa para todos nós, a precisão de linguagem é
fundamental.
MORAL: Afinal ninguém
é tão inferior assim.
SUBMORAL:
Nem tão superior, por falar nisso.
Millôr
Fernandes, in Fábulas Fabulosas
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