Gabriel
Caro, colombiano, que lutou na Nicarágua, conta que ao lado dele caiu um suíço,
destrocado por uma rajada de metralhadora; e ninguém sabia como era o nome do suíço. Aconteceu
na Frente Sul, um par de noites ao norte do rio San Juan, pouco antes da derrota
da ditadura de Somoza. Ninguém sabia o seu nome, ninguém sabia nada daquele
calado miliciano louro que tinha ido tão longe para morrer na Nicarágua, pela
revolução, pela lua. O suíço caiu gritando uma coisa que ninguém entendeu, caiu
gritando: — Viva Bakunin!
E
enquanto ouço Gabriel contando a história do suíço, minha memória se acende. Há anos, em Montevidéu, Carlos
Bonavita me falou de um tio dele, ou tio-avô, que redigia os relatos de batalha
nos tempos das guerras gaúchas nas pradarias do Uruguai. Andava aquele tio
ou tio-avô contando mortos na beira do rio onde uma batalha, não sei qual,
tinha acontecido. Pela cor das fitas que os soldados usavam
nos cabelos, reconhecia os grupos. Estava fazendo isso quando viu um cadáver
e ficou paralisado. Era um soldado de poucos anos, era um anjo de olhos
tristes. Sobre os cabelos negros, vermelhos de sangue, a fita branca dizia - Pela pátria e por ela. A bala tinha
entrado na palavra ela.
Eduardo Galeano, in O
livro dos abraços
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