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"Era um velho caçador
acampado e o caçador compartilhou seu tabaco com ele e lhe falou sobre o bisão
e dos embates que tivera com eles, deitado em uma cavidade em alguma elevação
com os animais mortos espalhados pelo terreno em volta e a manada começando a
circular confusa e o cano do rifle tão quente que os pequenos retalhos de
limpeza chiavam ali dentro e os animais aos milhares e às dezenas de milhares e
as peles esticadas cobrindo verdadeiras milhas quadradas de terreno e as
equipes de peleiros se revezando dia e noite e a sucessão de semanas e de meses
atirando e atirando até as estrias dos canos ficarem lisas e o encaixe da
coronha ficar solto e as manchas amarelo-azuladas dos ombros aos cotovelos e os
carroções em comboios gemendo através da pradaria e as juntas de vinte e de
vinte e dois bois e os couros enrijecidos às toneladas e centenas de toneladas
e as carnes apodrecendo ao chão e o ar zunindo de moscas e os abutres e os
corvos e a noite um horror de rosnados e de presas rasgando com os lobos meio
enlouquecidos se espojando na vertigem da carniça.
Vi as carroças Studbaker com
parelhas de seis e oito bois rumando para os campos de caça sem outra carga
senão chumbo. Galena pura e mais nada. Toneladas. Só aqui nesta região entre o
rio Arkansas e o Concho foram oito milhões de carcaças pois esse tanto de peles
que chegou no terminal do trem. Faz uns dois anos a gente saiu de Griffin para
uma última caçada. Vasculhamos o território. Seis semanas. Até que acabamos
encontrando um bando de oito animais e matamos e fomos embora. Sumiram. Sumiram
todos até o último exemplar que um dia Deus pôs neste mundo como se nunca
tivessem existido.
O vento
soprou fagulhas irregulares. A pradaria em torno estava mergulhada em silêncio.
Além da fogueira fazia frio e a noite era clara e as estrelas caíam. O velho
caçador se embrulhou na manta. Fico pensando se existem outros mundos assim,
ele disse. Ou se esse aqui é o único."
Trecho
do último capítulo de Meridiano de Sangue,
livro de Cormac McCarthy
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