O
caso, se não ocorreu, bem que poderia ter acontecido.
Gernásio
Setembrino era soldado de polícia em São José do Baixio. Não era dado a
bebedeiras, nem crescia a sua autoridade junto aos matutos, nem se dava ao
prazer de pisar com suas reiúnas nos pés dos bêbados de final de feira.
O
fato é que Gernásio convivia com Lindalva a cerca de oito anos um feliz
amasiado. Ele vivia do trabalho ao lar. Ela, das prendas domésticas do doce
lar. Enfim, uma vida pacata.
O
casal era motivo de admiração, quiçá exemplo. Lindalva, nos agrados da
culinária, da cama, dos mimos, cafunés e massagens. Gernásio, nos haveres
domésticos e nos galanteios com a consorte. O que sobressaia externamente era a
farda do diligente militar: um esmero no engomado, notadamente os vincos, que
causavam suspiros de inveja na delegacia, principalmente no delegado, tão amarrotado,
coitado.
Para
completar a total felicidade dos pombinhos, só faltava o reconhecimento da
Igreja, o casamento, enfim, diziam os parentes, aderentes, amigos, conhecidos,
todos, afinal.
E
se era para a felicidade geral de São José do Baixio, transformou-se aquele
harmonioso casal em nubentes. Consumado o ato, com grande festa, partiu o casal
para a lua-de-mel na capital.
Após
o retorno do idílio, a rotina, a labuta. Gernásio tomou o seu banho. Ao chegar
ao quarto, não encontrou na cama a farda engomada. Surpreso, ele perguntou:
-
Meu bem, cadê a farda?
Retrucou
a mulher:
-
Eu não engomei, pois não sou mais sua rapariga. Se quiser que engome, ou vá
igual ao delegado.
Findo
o caso.
Como,
caro leitor, requerer que eu termine o fato delongando a história, talvez ele
dando um corretivo na recente esposa, ou ir amarrotado à delegacia? O desenlace
fica por conta da imaginação de Vossa Mercê.
Elilson José Batista, in Inéditos
& Afins
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