domingo, 2 de setembro de 2012

O soldado e a consorte

O caso, se não ocorreu, bem que poderia ter acontecido.
Gernásio Setembrino era soldado de polícia em São José do Baixio. Não era dado a bebedeiras, nem crescia a sua autoridade junto aos matutos, nem se dava ao prazer de pisar com suas reiúnas nos pés dos bêbados de final de feira.
O fato é que Gernásio convivia com Lindalva a cerca de oito anos um feliz amasiado. Ele vivia do trabalho ao lar. Ela, das prendas domésticas do doce lar. Enfim, uma vida pacata.
O casal era motivo de admiração, quiçá exemplo. Lindalva, nos agrados da culinária, da cama, dos mimos, cafunés e massagens. Gernásio, nos haveres domésticos e nos galanteios com a consorte. O que sobressaia externamente era a farda do diligente militar: um esmero no engomado, notadamente os vincos, que causavam suspiros de inveja na delegacia, principalmente no delegado, tão amarrotado, coitado.
Para completar a total felicidade dos pombinhos, só faltava o reconhecimento da Igreja, o casamento, enfim, diziam os parentes, aderentes, amigos, conhecidos, todos, afinal.
E se era para a felicidade geral de São José do Baixio, transformou-se aquele harmonioso casal em nubentes. Consumado o ato, com grande festa, partiu o casal para a lua-de-mel na capital.
Após o retorno do idílio, a rotina, a labuta. Gernásio tomou o seu banho. Ao chegar ao quarto, não encontrou na cama a farda engomada. Surpreso, ele perguntou:
- Meu bem, cadê a farda?
Retrucou a mulher:
- Eu não engomei, pois não sou mais sua rapariga. Se quiser que engome, ou vá igual ao delegado.
Findo o caso.
Como, caro leitor, requerer que eu termine o fato delongando a história, talvez ele dando um corretivo na recente esposa, ou ir amarrotado à delegacia? O desenlace fica por conta da imaginação de Vossa Mercê.
Elilson José Batista, in Inéditos & Afins

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