“Quando
te encontras na base de um importante maciço montanhoso, estás longe de
conhecer toda a sua diversidade, não tens nenhuma ideia das alturas que se
ergueram por trás do seu cimo ou por trás daquele que te parece ser o cimo, não
suspeitas nem o perigo dos abismos nem os confortáveis assentos ocultos entre
os rochedos. É apenas se sobes e se persegues o teu caminho que se revelam
pouco a pouco a teus olhos os segredos da montanha, alguns que esperavas,
outros que te surpreendem, uns essenciais, outros insignificantes, tudo isso
sempre e unicamente em função da direção que tomares; e nunca te revelarão
todas.
O
mesmo acontece quando te encontras diante de uma alma humana.
Aquilo
que se te oferece ao primeiro olhar, por mais perto que estejas, está longe de
ser a verdade e certamente nunca é toda a verdade. É apenas no decurso do
caminho, quando os teus olhos se tornam mais penetrantes e nenhuma bruma
perturba o teu olhar, que a natureza íntima dessa alma se revela a pouco a
pouco e sempre por fragmentos. Aqui é a mesma coisa: à medida que te afastas da
zona explorada, toda a diversidade que encontraste no caminho se esbate como um
sonho, e quando te voltas uma última vez antes de te afastares, vês apenas de
novo esse maciço que te surgia falsamente como muito simples, e esse cimo que
não era o único que existia. Apenas a direção é realidade; o objetivo
é sempre ficção, mesmo quando alcançado - sobretudo neste caso.”
Arthur
Schnitzler, in Observação do Homem
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