“Quando
vires alguém com um estilo rebuscado e cheio de adornos podes ter a certeza de que
a sua alma apenas se ocupa igualmente de bagatelas. Uma alma verdadeiramente grande é mais tranquila e
senhora de si a falar, e em tudo quanto diz há mais firmeza do que preocupação
estilística. Tu conheces bem os nossos jovens elegantes, com a barba e o cabelo
todo aparado, que parecem acabadinhos de sair da fábrica! De tais criaturas
nada terás a esperar de firme ou sólido. O estilo é o adorno da alma: se for
demasiado penteado, maquiado, artificial, em suma, só provará que a alma carece
de sinceridade e tem em si algo que soa a falso. Não é coisa digna de homens o
cuidado extremo com o vestuário! Se nos fosse dado observar ‘por dentro’ a alma
de um homem de bem — oh! que figura bela e venerável, que fulgor de
magnificente tranquilidade nós contemplaríamos, que brilho não emitiriam a
justiça, a coragem, a moderação e a prudência! E não só estas virtudes, mas
ainda a frugalidade, o autodomínio, a paciência, a liberalidade, a gentileza e
essa virtude, incrivelmente rara no homem, que é a humanidade — também estas
fariam jorrar sobre a alma o seu sublime esplendor! E mais ainda, a
presciência, o juízo crítico e, acima de todas, a magnanimidade — oh! deuses,
quanta beleza, quanta severa dignidade não acrescentariam à figura, quanta
autoridade e graça se não juntariam nela! Ninguém contemplaria tal figura sem a
declarar tão digna de amor como de respeito”.
Sêneca, in Cartas a Lucílio
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