Os
homens nunca revelam os verdadeiros objetivos pelos quais atuam. Intimamente,
exageram os motivos baixos, materiais: publicamente,
anunciam os motivos nobres, espirituais. Mentem em ambos os casos. Os homens
não conhecem os outros nem a si próprios.
A
maior parte dos homens vive de instinto, hábito e imitação, animalmente - por
vezes, com intermédios de felicidade inconsciente. Os poucos superiores sofrem,
tentam, desesperam. Os mais elevados são os que desejam apenas as coisas
inacessíveis, impossíveis (amor perfeito, arte perfeita, felicidade,
eternidade, etc.).
Todos
os homens tentam enganar o próximo. Todos os homens procuram superar e dominar
o próximo. Todos os homens se imaginam no bem, no passado ou no futuro. Todos
homens se esquecem dos verdadeiros fins e fazem dos meios os seus objetivos.
Para onde quer que os homens se voltem, depara-se-lhes o impossível. Todos os
homens se julgam mais que os outros.
Não
basta aos homens possuir um bem, se não for maior que o do próximo. E, obtido
um bem, cansam-se dele (saciedade, náusea) - ou então têm medo de o perder e
padecem - ou desejam outro. Para obterem um bem imediato, não pensam no mal
próximo que advirá.
Todos tentam extrair dos outros mais do
que podem: os industriais dos compradores - os patrões dos operários - os
operários dos patrões, etc., etc. -, e dar o menos que podem - e como todos
fazem o mesmo, a vida é uma contenda, um engano - sem vantagem para ninguém.
Giovanni
Papini, in Relatório sobre os homens
Nenhum comentário:
Postar um comentário