segunda-feira, 4 de junho de 2012

Pecado, salvação...

O estudante de medicina Meyer e o aluno da Escola de Belas-Artes de Moscou Ríbnikov foram certa noite à casa de seu amigo, o estudante de direito Vassíliev, e propuseram-lhe acompanha-los ao Beco de S... Vassíliev passou muito tempo opondo-se a esse programa, mas acabou vestindo-se e acompanhando-os.
Conhecia as mulheres decaídas somente de outiva, e nunca estivera nas casas em que elas viviam. Sabia da existência de mulheres imorais que, sob pressão de condições fatídicas: o meio, a má educação, a miséria, etc., se viam obrigadas a vender por dinheiro a sua honra. Elas não conhecem o amor puro, não têm filhos, não possuem direitos civis; mães e irmãos choram-nas como se estivessem mortas, a ciência considera-as um mal, os homens tratam-nas por “você”. Mas, não obstante tudo isso, elas não perdem a imagem e semelhança de Deus. Todas elas têm consciência do seu pecado e esperança de salvação. Elas podem utilizar na mais larga escala meios que levam à salvação.
A sociedade, é preciso reconhecer, não perdoa aos homens o seu passado, mas, para Deus, Santa Maria Egipcíaca não está abaixo dos outros santos. Quando Vassíliev reconhecia na rua, pelos trajes ou pelas maneiras, uma mulher decaída, ou se a via representada numa revista humorística, sempre lembrava uma história, que lera algum dia, não se lembrava onde: um jovem, puro e abnegado, apaixonara-se por uma mulher decaída e oferecera-lhe casamento, mas ela envenenara-se, por considerar indigna de semelhante felicidade.
Anton Tchekhov, início do conto Uma crise

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