O
estudante de medicina Meyer e o aluno da Escola de Belas-Artes de Moscou
Ríbnikov foram certa noite à casa de seu amigo, o estudante de direito
Vassíliev, e propuseram-lhe acompanha-los ao Beco de S... Vassíliev passou
muito tempo opondo-se a esse programa, mas acabou vestindo-se e
acompanhando-os.
Conhecia
as mulheres decaídas somente de outiva, e nunca estivera nas casas em que elas
viviam. Sabia da existência de mulheres imorais que, sob pressão de condições fatídicas:
o meio, a má educação, a miséria, etc., se viam obrigadas a vender por dinheiro
a sua honra. Elas não conhecem o amor puro, não têm filhos, não possuem
direitos civis; mães e irmãos choram-nas como se estivessem mortas, a ciência
considera-as um mal, os homens tratam-nas por “você”. Mas, não obstante tudo
isso, elas não perdem a imagem e semelhança de Deus. Todas elas têm consciência
do seu pecado e esperança de salvação. Elas podem utilizar na mais larga escala
meios que levam à salvação.
A sociedade, é preciso reconhecer, não
perdoa aos homens o seu passado, mas, para Deus, Santa Maria Egipcíaca não está
abaixo dos outros santos. Quando Vassíliev reconhecia na rua, pelos trajes ou
pelas maneiras, uma mulher decaída, ou se a via representada numa revista
humorística, sempre lembrava uma história, que lera algum dia, não se lembrava
onde: um jovem, puro e abnegado, apaixonara-se por uma mulher decaída e
oferecera-lhe casamento, mas ela envenenara-se, por considerar indigna de
semelhante felicidade.
Anton
Tchekhov, início do
conto Uma crise
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