Quando
Leandro Xerife, o pescador, percebeu, já era tarde da noite e a pândega já
tinha consumido todas as suas energias num comício de adesão de um adversário
ao partido do prefeito, que resolveu retornar de mototáxi para a praia de
Paraíso.
Na
chegada ao Paraíso, Leandro perguntou ao mototaxista:
-
Quanto foi a corrida?
-
Dez reais.
-
Ei, moço, eu não tou querendo comprar sua moto, não. A corrida não é cinco?
-
Cinco é de dia. Uma corrida de madrugada é muito perigoso, e todos cobram
dobrado.
-
Homem, eu sou tenho sete. Se você quiser...
-
Mas é muito engraçado, eu venho me arriscando a tomarem a moto de assalto e
você agora me vem com essa lorota!
-
Ah, é? Pois nem dez, nem sete e nem cinco! Me ponha na garupa da moto, volte
para Areia Branca e me deixe no mesmo lugar que você me pegou.
-
É o que, macho? É muito engraçado. Então eu vou passar a madrugada passeando
com você, pra cima e pra baixo, e você não vai me pagar nada?
-
Por acaso você vai levar a moto na cabeça ou no bolso? Você vai ter que voltar.
Me deixe no mesmo local e estamos quites.
-
Homem, para não perder de tudo, me dê esses sete reais – disse o mototaxista,
já bastante enfezado e disposto a acabar com a discussão.
Após
cinco minutos que Leandro entrou em casa, que é um misto de residência e bar,
ouviu uma buzina insistente e abriu a porta. Era o mototaxista que voltava,
pois percebeu duas pessoas em situação suspeita e, por precaução, retornou e
pediu guarida ao pescador. Este cedeu uma rede ao dono da moto, que dormiu no
alpendre, depois de dividir o prato de sopa com o dono da casa.
De
manhã, Leandro serviu café com pão ao inesperado hóspede. Na saída, este
agradeceu;
-
Obrigado pela hospedagem, Leandro.
-
Ei, moço, aqui é um bar: consumiu, tem que pagar!
-
Como é que é a estória?
-
Ora, você tomou da minha sopa, dei dormida para não ser assaltado, além de ter tomado
do meu café. Somando tudo, é quinze reais, mas pra você faço por dez.
-
Mas, rapaz, essa é demais! Tome seus sete reais, disse o irado mototaxista,
jogando o dinheiro na direção de Laércio.
E saiu ciscando areia, se maldizendo e
arrependido por não ter enfrentado os suspeitos da madrugada.
Elilson
José Batista, in
Inéditos & Afins
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