Olá, eu sou Samuel de Oliveira Paiva,
aluno matriculado no 4° Período de Direito da Universidade do Estado do Rio
Grande do Norte. O relógio do canto inferior direito do meu computador aponta
01h30min da madrugada de Domingo para Segunda, em verdade gostaria de estar
dormindo para acordar bem para a aula, como se sabe, no entanto, estamos mais
uma vez em greve, depois dos homéricos 106 dias. Gostaria de descer a certas
minúcias que outros veículos ainda não desceram.
A aula era de Ciência Política, um
homem baixinho, bem vestido, de modos polidos, gestos comedidos, voz tenra, e
um jeito de falar que mais escondia que expunha, adentrou na sala. Sim era
Anselmo Carvalho, o atual secretário-chefe do Gabinete Civil do Governo,
educado, inteligente, mas com uma apatia que afastava qualquer dinâmica, o
mestre nos explicava seus slides que misturavam os ensinamentos de Dalmo de
Abreu Dallari e Paulo Bonavides. Uma vez eu perguntei-lhe se poderíamos chamar
os Rosados de oligarquia, ele abriu os braços, esticou um lábio, não respondeu,
insisti, “cada um diz o que quer” limitou-se a dizer. Repare que com isso não
quero ganhar tratamento de critico agudo, rapaz ciente, ou qualquer estandarte
que o valha, acho simplesmente que aquilo fora prova de certa fraqueza, afinal
um professor de Ciência Política não poderia se furtar a uma problemática desse
tipo, ainda que fosse para argumentar de maneira diversa. Era como se a Teoria
não fosse digna da prática. Lembro que Anselmo sempre nos indicava a leitura
dos “Escritos Políticos” de Winston Churchill. Se
compararmos suas frases que versam nesse sentido: “Só faremos o pagamento
quando a lei de responsabilidade fiscal permitir", com
uma de Churchill “Não adianta dizer: Estamos fazendo o melhor que podemos.
Temos que conseguir o que quer que seja necessário”, novamente somos tomados
pela impressão de que para certas figuras a Teoria não merece a prática, sua
curiosidade pelos livros é a mesma de um transeunte pelo corpo de um individuo
que acaba de acidentar-se, olha, impressiona-se e vai embora tentando esquecer
o horror que vira. Acho triste e incompreensível que alguém se satisfaça em ser
cão de guarda alheio, um cão de guarda frio e burocrático.
De Rosalba não esperava outra coisa, só
os neuróticos não sabem que na nossa política funciona o costume contra
legem, não há segredos nisso, os prefeitos e vereadores compram eleitores
avulsos, os governadores compram em atacado, por meio de “apoio”, perceba que o
“jogo político” na época de eleições faz com que, principalmente nas cidades
pequenas, o candidato a Governo troque de Prefeito cerca de quatros vezes.
Então sabemos que os alicerces são podres, logo sobre ele não se fixa grandes
edifícios. Na campanha a qual Rosalba sagrou-se Governadora, lembro que ela
passou em minha cidade Natal, como em muitos outros lugarejos, lá encontrou, na
zona rural, um circo – de fato era um circo – e centenas de eleitores apertados
em trajes cor de rosa comprados às pressas, já que até duas semanas atrás o
prefeito apoiava outro candidato. Rosalba, junto com Zé Agripino, tirou fotos
com um chapelão de palha na cabeça. Chamamos a isso de “festa da Democracia”. A
poetisa Hilda Hist dizia que, etimologicamente, Democracia quer dizer governo
do Demônio (Demo=Demônio, Cracia=Governo). Rosalba era, por tanto, igual a
todos, como poderia esperar que algo diferente brotasse desse seio político
viciado? Carlos Drummond verseja, como metáfora claro, de uma Flor que brota no
meio do asfalto, vendo-a surrada, insossa, esmilinguida, ele diz “É feia, mas é
uma Flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio”, escrevi um Cordel dizendo
“É Rosa, mas não é uma Flor”.
A UERN precisa de muita coisa, vontade
acima de tudo. Das mais simples informações a Livros e papel-higiênico. Falta
também respeito por parte de muitos professores aos estatutos de nossa
faculdade, cronograma e outras coisas que as sucessivas greves bagunçam ainda
mais. Apesar de tudo, tenho muito orgulho e sinto-me deveras feliz em cruzar
sua entrada de portões arriados.
Os professores têm que lutar por
melhores salários sim. Às vezes nós alunos injustamente reclamamos de suas
posturas, ocorre que no máximo passaremos cinco anos na faculdade, ansiamos
levantar voo, só que a luta dos professores é a luta de uma vida inteira.
Refiro-me aos verdadeiros professores, há muitos que não merecem esse título.
Como há alunos que não o merecem.
O Curso de Direito recebeu o selo OAB,
é apenas a prova de que somos bons em provas. Passamos por uma crise paradigmática
no Direito, tremendo excesso de contingente, falta de consciente. Lênio Luiz
Streck costuma perguntar em suas aulas se alguém aceitaria ser operado por um
cardiologista que tivesse estudado por um livro intitulado “Manual de Cirurgia
Cardíaca Descomplicado” ou “esquematizado”, no Direito isso é uma constante,
somos obrigados a tal.
Torço para que nós alunos não nos
percamos em nossas reivindicações, tenhamos olhos abertos, dispensando as vias
extremas e duvidando das muito fáceis.
A luta é por
Educação, somos de um país, de uma região, de um estado, deseducado. Educação é
prática, é como caridade. É a própria vida. Reflete-se desde a hora de votar
até a de dizer sem alarme que sente a morte rouba-lhe as forças.
Samuel Paiva, in oefeitocafeina.blogspot.com.br
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