Não me escutam? Por que não me
escutam
Os plutocratas e todos os que são
chefes e são fezes?
Todos os donos da vida?
Eu lhes daria o impossível e lhes
daria o segredo,
Eu lhes dava tudo aquilo que fica
pra cá do grito
Metálico dos números, e tudo
O que está além da insinuação
cruenta da posse.
E si acaso eles protestassem, que
não! que não desejam
A borboleta translúcida da humana
vida, porque preferem
O retrato a ólio das inaugurações
espontâneas,
Com béstias de operário e do
oficial, imediatamente inferior.
E palminhas, e mais os sorrisos
das máscaras e a profunda comoção,
Pois não! Melhor que isso eu lhes
dava uma felicidade deslumbrante
De que eu consegui me despojar
porque tudo sacrifiquei.
Sejamos generosíssimos. E
enquanto os chefes e as fezes
De mamadeira ficassem na creche
de laca e lacinhos,
Ingênuos brincando de felicidade
deslumbrante:
Nós nos iríamos de camisa aberta
ao peito,
Descendo verdadeiros ao léu da
corrente do rio,
Entrando na terra dos homens ao
coro das quatro estações.
Mário
de Andrade
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