Nos anos cinquenta a turma da juventude
transviada invadia o espaço público com suas atitudes rebeldes embaladas numa
musica com um ritmo dançante acompanhadas por guitarras elétricas, ou violões
elétricos que deixavam todos num grande frenesi. No inicio apesar da atitude
contestadora de rompimento com padrões conservadores traziam em suas letras
contraditoriamente mensagens açucaradas, muitas com um certo toque adolescente,
quase infantil. No Brasil esse ritmo batizado de Rock and roll, teria sua
primeira geração formada por nomes como os irmãos Tony e Cely Campelo, Rony
Cord e Sergio Murilo. Suas canções em sua grande maioria eram versões de
sucessos americanos que agradavam em cheio os jovens que se identificavam com a
sua energia e filosofia de vida, mascando chicletes, andando de lambretas, os
cabelos com topetes e brilhantina e vestidos com blusões de couro. Essa
rebeldia ingênua caracterizou um tipo de comportamento social que daria novos
rumos a musica popular brasileira, mesmo que alguns não a considerassem como
tal, já que na mesma ocasião disputavam a preferência do público com os
artistas da Bossa Nova. Seja como for depois do surgimento do rock nossa canção
popular jamais seria a mesma.
A partir os anos sessenta os brotos comandavam
parcela significativa da cena musical tupiniquim, e após terem se inspirado em
seus ídolos da década anterior chegavam com toda a força para marcar presença,
desse modo, conjuntos, compositores e intérpretes como Renato e Seus Blue Caps,
Snakes, The Jet Blacks, Roberto Carlos, Erasmo Carlos, Jerry Adriany e
Wanderleia, provocaram uma verdadeira febre entre os jovens empunhando
guitarras e compondo uma trilha musical que tinha em suas letras uma alienante
mais romântica mensagem que sacudiu o Brasil com o nome Jovem Guarda. Vivíamos
então um cenário de incertezas políticas e sociais, contudo, todas essas
questões que inquietavam a nação passaram ao largo e os jovens mandaram ver,
principalmente quando explodiu no planeta a bomba Beatles, ai, tudo era iê iê
iê, apesar da guerra às guitarras promovida pelas brilhantes cabeças pensantes
da MPB, um time de compositores e intérpretes que faziam com talento
inigualável o contra ponto da alegria rebelde da turma que achava que tudo “era
uma brasa, mora!”.
Este cenário rico de valores artísticos estaria
portanto vulnerável à chegada a cada momento de novos e arrebatadores
personagens para compor a geléia geral brasileira, e assim em 1967 a Tropicália
liderada por Caetano Veloso e Gilberto Gil tomam conta da cena e com eles surge
então um grupo de rock com uma proposta bem diferente das melodiosas,
infantis/rebeldes canções da Jovem Guarda, trata-se de Os Mutantes, o nosso
primeiro conjunto tipicamente rock and roll que vieram para bagunçar o coreto
desse circo chamado Brasil. Formado em São Paulo pelos irmãos Arnaldo e Sergio
Dias Batista e por Ria Lee Jones, estrearam no programa O pequeno mundo de
Ronnie Von, na TV Record em 1966 e no ano seguinte foram convidados para
acompanhar Gilberto Gil na musica Domingo no parque, no III Festival de Musica
Popular da TV Record.
Seu talento conquistou todo o grupo de baianos que lideravam a cena musical e passaram então a acompanhá-los em apresentações e gravações, participando inclusive do legendário LP Tropicália ou panis et circensis, lançado em 1968, ano em que gravaram também seu primeiro disco pela gravadora Polydor em que registraram canções de sua autoria e também de Caetano Veloso, Gilberto Gil e Jorge Bem. Aliás o ano de 1968 foi de grandes conquistas para Os Mutantes, recebendo o Troféu Imprensa como o melhor conjunto musical e o convite para se apresentarem no MIDEM, o Mercado Internacional de Discos e Editores Musicais realizado em Cannes, na França.
Seu talento conquistou todo o grupo de baianos que lideravam a cena musical e passaram então a acompanhá-los em apresentações e gravações, participando inclusive do legendário LP Tropicália ou panis et circensis, lançado em 1968, ano em que gravaram também seu primeiro disco pela gravadora Polydor em que registraram canções de sua autoria e também de Caetano Veloso, Gilberto Gil e Jorge Bem. Aliás o ano de 1968 foi de grandes conquistas para Os Mutantes, recebendo o Troféu Imprensa como o melhor conjunto musical e o convite para se apresentarem no MIDEM, o Mercado Internacional de Discos e Editores Musicais realizado em Cannes, na França.
O caminho portanto estava aberto para o grupo e
em 1969 surge um novo LP novamente tendo como titulo o nome do conjunto. Nesse
disco são lançados vários sucessos permanentes como Dom Quixote e Caminhante
noturno, de Arnaldo Batista e Rita Lee e 2001, de Tom Zé e Rita Lee. A
irreverência, uma das suas mais fortes características verifica-se em Dom
Quixote, que inclui na introdução uma citação a ópera Aída, de Giuseppi Verdi
terminando com um deboche e uma citação a Chacrinha e sua barulhenta buzina. Já
em Caminhante noturno, há uma mistura de sons distorcidos, misturando vaias e a
voz de um robô, numa alusão ao Robô B9 da serie Perdidos no Espaço, gritando,
“Perigo! Perigo! Rota de colisão! É proibido proibir” acompanhado de um fundo
sonoro gravado da platéia do Marcanzinho durante a apresentação de Caetano
Veloso no III Festival Internacional da Canção do ano anterior, gritando em
coro e aos berros, Bicha! Bicha!
Com um som moderno, inventivo e livre de amarras,
Os Mutantes promoveriam diversas inovações neste LP gravando por exemplo a
musica Algo mais, composta pelo grupo e que era nada menos do que um jingle
publicitário para uma campanha da Shell o que traria constrangimentos a
gravadora Philips, mas que acabou consentindo com a sua inclusão. Os Mutantes
experimentavam sempre e tinham em Rogério Duprat e Cláudio César os
responsáveis pela sonorização dos impressionantes efeitos produzidos nas suas
canções.
Com toques geniais e muito além do seu tempo
tupiniquim, Os Mutantes realizaram um tipo de som que marcaria de maneira
irreversível todos os outros grupos que iriam surgir na cena musical
brasileira, já que foram os pioneiros não somente nos arranjos e no toque
vanguardista de suas musicas como também na irreverência visual de suas
apresentações. O nome já esta na história e a alegria compromissada desses jovens
lá nos idos dos anos de chumbo, fizeram mais amenas as agruras de tempos
difíceis demonstrando com muito talento que a criatividade brazuca pode
realizar uma antropofagia cultural, comendo do lado de cima do equador suas
impressões e ruminando uma linda e leve loucura nacional, com todos os
adjetivos positivos que a nossa louca criatividade pode produzir.
Luiz
Américo Lisboa Junior, in www.luizamerico.com.br
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