sábado, 3 de março de 2012

Roberto Bolaño, nosso Joyce quixotesco

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Roberto Bolaño, é um nome que causa reboliço, aonde quer que seja pronunciado. Reverenciado pela crítica e pela opinião pública, detestado pela Academia, Bolaño sempre foi uma personalidade polêmica. Um verdadeiro Outsider numa sociedade onde todos os Outsiders estão mortos.
Nascido em Los Angeles, Chile, Roberto Bolaño desde cedo desafiava os valores impostos pela escola, pelos pais e pelo seu país. Aos quinze anos decide ir para o México, largar a escola e escrever poesia. Discípulo de Nicanor Parra, um dos maiores poetas mexicanos, Bolaño desenvolve sua escrita, enquanto cria um movimento político-literário conhecido hoje como infrarrealismo, ou real visceralismo. Inimigo mortal de Mario Vargas Lhosa, Gabriel Garcia Marques e Pablo Neruda, Bolaño passa sua adolescência no México invadindo eventos literários e incendiando palanques políticos.
Aos vinte anos decide voltar para o Chile e ajudar no movimento revolucionário de extrema esquerda. Uma semana depois é preso e acusado de terrorismo. Passa oito dias na cadeia onde, pela voz de um carcereiro, descobre que será executado no fim do mês. Para escapar, Bolaño promete ao carcereiro emprego e casa no México. O carcereiro aceita a proposta e os dois escapam do Chile novamente rumo ao México. Chegando no México Bolaño não perde tempo, exilado, parte para a Europa, para nunca mais voltar, (alguns dizem que sem cumprir a promessa para o carcereiro.)
Nos Próximos anos Bolaño vaga por Portugal, França, Itália e Espanha. Estabelecendo-se finalmente em Barcelona onde se casa com uma Catalã e onde passará o resto de seus dias. Durante os seus primeiros anos na Europa, Bolaño trabalhou de lavador de pratos, (ocupação particularmente preferida do autor), gari, pedreiro, marceneiro, pintor, atendente de livraria, e outros tantos subempregos. Bolaño orgulhava-se de não ter sido “contaminado” pelo vírus acadêmico que varria a literatura, simplesmente por nunca ter pisado numa universidade.
Bolaño, marginalizado na América Latina, encontrou em Barcelona um terreno fértil para a produção artística. Em seu primeiro romance, Noturno no Chile, o escritor constrói um retrato bruto e verdadeiro de um país e de um continente imutável e nauseabundo, semi-feudal e preconceituoso. Seus outros livros de maior sucesso, 2666, uma espécie de Ulisses latino americano e Detetives Selvagens permanecem fieis a essa descrição do continente latino americano.
Roberto Bolaño é o melhor que tem acontecido há muito tempo no ofício da escrita. Desde que com seu monumental Os Detetives Selvagens, que o fez famoso e ganhou os prêmio Herralde (1998) e Rômulo Gallegos (1999), sua influência e sua figura seguiram em crescimento constante: tudo o que disse, com seu afiado humor, com sua inteligência requintada, tudo o que escreveu, com sua pluma certeira, de grande risco poético e profundo compromisso criativo, é digno da atenção dos que o admiram e, é claro, dos que o detestam.
Numa época de heróis mortos, Bolaño é o pícaro quixotesco que sozinho desafia o status quo, enfrentando os moinhos da ignorância e do provincianismo.
Luís Otávio Hott, in obviousmag.org

2 comentários:

  1. Tem coisas que não são certas no artigo_

    1 Nicanor Parra é chileno.

    2 O movimento revolucionário de extrema esquerda na verdade era da toda a esquerda, não somente da extrema

    3 Bolaño foi liberado da prisão no Chile por dois colegas do ensino meio que eram policias.

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  2. Olá, Carlos, obrigado pelo acesso. Quanto às "coisas" não certas que você aponta no artigo:
    1. No texto está claro: "Nascido em Los Angeles, Chile, Roberto Bolaño..." (início do 2º parágrafo);
    2. Não há o que se debater;
    3. O autor do artigo, Luís Otávio Hott, talvez desconheça essa versão, ou tenha optado por essa, creio.
    Um abraço,
    Elilson José Batista

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