domingo, 18 de março de 2012

Persistência do eu romântico

O real é oco, coxo, capenga.
O real chapa.
A imaginação voa.
Escrevi até a exaustão
no pergaminho d’água do sono.
Nessas linhas esvaídas no vórtice da vigília,
ao mesmo tempo em que inebriado ouvia
com o mais apurado ouvido absoluto,
parece que eu transcrevia
com a exata minúcia de geômetra-matemático,
em uma vívida e mutável clave,
as notas do sempre mesmo rouxinol.
Sumida a cor dos perfumes das rosas
de Hafiz de Chiraz
sem deixar pista de armazém,
aparelho clandestino,
ponta de estoque, local de resgate,
arquivo ou fichário
do fantasmático país do olvido
dessa amalgamada região dos tropos,
acordei
(oh! calígrafo dopado!) 
e
nada restou impresso.

Reduzido a esqueleto de éter,
Poeta mente demais…
Uma borboleta bate as asas
dentro do meu peito
e provoca furacões
lá na Conchinchina. Ou vice-versa.

O real é oco, coxo, capenga.
O real chapa.
A imaginação voa.

Waly Salomão, in Algaravias

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